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Segurança Digital e inovação precisam andar de mãos dadas

em Destaques
segunda-feira, 21 de março de 2022

Roberto Rebouças (*)

A união voluntária entre duas pessoas, nos dias de hoje, evidencia como passamos por mudanças significativas ao longo dos últimos dois anos. Os modelos tradicionais foram substituídos por celebrações personalizadas e muitas até migraram para o online. A transformação digital, que aconteceu em vários âmbitos, tem chamado a atenção principalmente pelos benefícios de agilidade e eficiência nas operações e nas tomadas de decisão.

Porém, ao avaliar as recentes inovações, raramente vejo a segurança digital desempenhando um papel-chave. Como exemplo, destaco as constantes notícias sobre vazamentos de informações pessoais e as paralizações das operações de empresas bem conhecidas por ataques de ransomware – uma ameaça que podemos dizer que é bem conhecida. Creio que todos se lembram de 2017 e a epidemia do WannaCry, que deveria ter resultado em melhores condutas no ambiente digital das empresas.

Não se pode focar na transformação digital, inovação e melhorias na experiência do cliente (UX) e ignorar a proteção desses processos, produtos ou serviços. Por isso, acredito que cibersegurança e inovação precisam se desenvolver juntas, como um casal que acabou de iniciar uma relação. Mas, como garantir a competitividade e agilidade da inovação, sem renunciar à segurança?

Minha primeira recomendação é que o casal precisa ter um objetivo em comum que servirá de referência para as decisões que eles terão que tomar ao decorrer da jornada. Definir alguns valores que ambos devem compartilhar é um bônus neste quesito que pode ajudar a solucionar futuros conflitos. Um desse valores pode ser “escolher sempre o caminho que não colocará em risco a relação”.

Talvez você esteja pensando em infidelidade, desconfiança. Mas também me refiro a reputação da marca e garantir uma operação lucrativa. Essas são as principais consequências que as organizações vítimas de um ataque de ransomware estão enfrentando com a exposição pública do caso e os prejuízos financeiros, como a paralização da empresa, custo para retomar a operação, possíveis multas e, em alguns casos, o pagamento do resgate.

Nesses casos, a ineficácia de proteção corporativa enfraqueceu a relação inovação-segurança e ainda teve consequências gigantescas para a saúde da empresa. Para evitar problemas e tentar manter o equilíbrio da relação inovação-segurança, me inspirei na maneira como casais desenvolvem um vínculo íntimo ou a intimidade. Isso ocorre depois de muito conversas e compartilhando muitas experiências.

Chega-se a um ponto em que um consegue prever o que o outro fará. Por isso, a comunicação dentro dos times que estão planejando e implementando os projetos de inovação e o time de segurança é extremamente importante. Acredito que todos saibamos que intimidade e vínculos sólidos não se constroem da noite para o dia, da mesma forma, não se pode esperar que algo novo atenda aos requisitos mínimos de segurança chamando o time ao final do processo. O casal precisa conversar sobre assuntos importantes desde o início.

Claro que conflitos irão surgir, pois, na maioria das vezes, cada um tentará defender a escolha que mais que convém, e é aqui que definir valores e objetivos em comum previamente ajudará a solucionar os debates e encontrar a melhor decisão para o casamento (ou o negócio). Com a experiência que tenho, devo alertar para os riscos que algumas práticas comuns levam.

A principal delas é “varrer os problemas da relação para debaixo do pano e tentá-lo esquecer”. Infelizmente isso apenas acumulará as dificuldades, assim como a poeira se junta embaixo de camas e tapetes. Porém, quando se mexe neles, ela é liberada de uma vez só.

Para quem não vive o dia-a-dia de cibersegurança, pode parecer um exemplo exagerado, porém adiar atualizações ou correções importantes dos programas ou escolher a segurança por “obscuridade” (ao iniciar uma operação na nuvem sem proteger esse ambiente) são práticas mais comuns do que parecem e foram causas frequentes dos casos de ransomware que tivemos a chance de avaliar.

Se importantes decisões fossem tomadas nos momentos corretos, o casal não teria que enfrentar a aprovação que foi gerada pelos seus erros, pois teriam criado uma certa proteção contra esses riscos.

Falando de maneira mais clara sobre a relação inovação-segurança, as pequenas e importantes proteções — ao se acumularem e se sobreporem — criarão uma rede sólida que protegerá tanto a longevidade do “casamento” quanto o presente e o futuro dos negócios.

(*) – É gerente-executivo da Kaspersky no Brasil (https://www.kaspersky.com.br/).