Nara Iachan (*)
Comecei minha jornada como empreendedora aos 20 anos, período em que cursei a faculdade de Economia na UFRJ, no Rio de Janeiro. Conhecia pouco de administração e quase nenhuma experiência profissional.
Todos os prazeres e dificuldades de empreender descobri na prática, no dia a dia. Sendo muito nova, não imaginei o tamanho dos desafios e das oportunidades que estavam à minha frente. Isso teve um lado positivo, de muita energia e pouco medo de errar.
Por outro lado, a pouca experiência, às vezes, gerava diversas frustrações e um despreparo para lidar com as adversidades. Errei muito e aprendi a aprender com os erros. Em meados de 2010, o cenário de startups brasileiras ainda estava desapontando, especialmente para as mulheres. Penso que isso vem de um histórico do pouco incentivo para as mulheres empreenderem e serem independentes financeiramente.
Podemos dizer que esse cenário tem mudado e o crescimento de mulheres empreendedoras no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos anos, alcançando mais de 10 milhões de mulheres conduzindo os próprios negócios. Além disso, é visível o aumento da presença feminina em eventos de inovação e tecnologia. Entre 2011 até pouco antes da pandemia, quase todos os eventos eram frequentados em sua maioria por homens e uma curiosidade ainda maior, organizados e produzidos por eles.
Até os livros disponíveis para leituras sobre o tema, as palestras e as trajetórias profissionais mais admiradas eram quase todas provenientes da figura masculina. Atualmente, observo iniciativas de diferentes instituições que auxiliam na reversão deste cenário (já bem antigo). Contudo, ainda vejo um caminho bem longo para que ambos estejam no mesmo patamar de presença.
Quando co-fundei a empresa, em 2011, com a missão de trazer inovação e praticidade para o mercado brasileiro, introduzindo o conceito de cupons de desconto que já era comum em muitos países, muitos líderes diziam que não ia dar certo, por diferentes motivos. De fato, muitas coisas realmente não deram certo e demandaram ajustes. Empreender é assim: você precisa lidar com problemas vindo de todos os lados o tempo inteiro.
Tem dias que você sente que não vai aguentar, mas depois pensa em formas de lidar com a situação. Com o tempo, passei a ter uma visão mais realista, racional, das situações e não sofrer com os erros. O mercado de tecnologia é dominado, majoritariamente, por homens, e essa questão pode ser muito solitária para as mulheres.
Estamos consolidando nossa posição neste mercado competitivo buscando tecnologias inovadoras para diversas áreas, entre elas, o mercado de fidelização de clientes. Por meio de muito estudo e conhecimento de mercado, a minha empresa vem oferecendo o que há de mais importante no mercado de consumo, clubes de benefícios e gamification.
É incrível pensar nos desafios iniciais e em tudo que a empresa se tornou. Fidelizar clientes? Nunca se falou tanto nisso como agora. Devemos tudo à capacidade de entender as necessidades do mercado e ao empenho do time – formado por mais de 50% mulheres em posições de liderança. Isso não era uma realidade há 10 anos. Lembro que nos primeiros passos da empresa existiam poucas mulheres ocupando cargos de liderança nas empresas parceiras, o que me dificultou a ter um norte sobre a líder que eu queria ser.
Não tinha em quem me inspirar. Ter mulheres CEOs, CMOs, gerentes ou qualquer outra posição de gestão não é apenas um ponto de referência para outras mulheres que percebem que também podem chegar lá, mas também para aquelas que já estão terem uma rede de apoio para conversar sobre as mesmas situações. Hoje, internamente valorizo as mulheres que ocupam cargos de gestão. Fico feliz quando vejo isso em outras empresas também.
Para puxar outras mulheres para a conversa, tenho a honra de ser também mentora para outras empreendedoras, compartilhando minhas experiências, aprendizados e insights. Acredito na importância de apoiar e capacitar outras mulheres, criando uma rede de apoio que fortaleça a comunidade como um todo. Essas iniciativas são fundamentais nessa fase de transição do mercado.
Apesar do otimismo, reconheço que ainda há muito a ser feito. Ainda que tendo melhorias graduais, as estatísticas revelam uma disparidade persistente entre os gêneros no mundo dos negócios. Para as empreendedoras que estão começando, dou sempre o conselho de que é preciso testar vários caminhos e ir aprendendo com os erros. Não se desanimem ao ouvirem os primeiros estigmas que colocam nas mulheres líderes.
Homens incisivos são chamados de líderes com pulso firme, já mulheres podem ser chamadas de “mandona”, por exemplo. No mercado também é comum que mulheres tenham mais dificuldade no acesso a investimentos, e essas preocupações são reais. Empreender é incrível, mas tem esse lado difícil e é importante aprender a lidar com essa parte sem deixar de acreditar em si mesma e na própria capacidade.
(*) – É fundadora e CMO da Cuponeria (https://www.cuponomia.com).