Em 2024, o Brasil celebrará os 150 anos da imigração italiana, fenômeno que ajudou a moldar a cultura, a economia e a sociedade em diversas áreas do país, especialmente a Serra Gaúcha, onde os fortes laços com o “made in Italy” contribuíram para criar uma indústria pujante. E ainda hoje a tecnologia e o modo de fazer italianos são parte fundamental dos processos produtivos na região, da metalurgia ao setor moveleiro, passando pelos alimentos e pela gastronomia.
Uma das empresas que ostentam esse legado é a Tramontina, gigante centenária que fabrica desde utilidades domésticas, como talheres e panelas, até móveis e materiais elétricos. Sua história está intimamente ligada a imigrantes italianos que levaram ao interior do Rio Grande do Sul a arte da cutelaria, um dos carros-chefes da marca. “A Tramontina sempre primou pelo alto grau de desenvolvimento, capaz de propiciar produção em elevada escala, com qualidade uniforme e buscando a plena segurança dos funcionários.
E a Itália sempre foi uma fonte muito destacada de fornecimento de máquinas e tecnologias alinhadas com esse propósito”, disse o diretor da companhia, Lourival Dalmás. Além disso, o parque fabril do grupo em Farroupilha foi composto sobretudo com equipamentos “made in Italy”, graças à atuação do engenheiro italiano Mario Bianchi, que desembarcou no Brasil aos 25 anos e chegou na empresa em 1968. “A Tramontina continua investindo diuturnamente em novas máquinas e equipamentos, e isto implica estar sempre próximo das tecnologias desenvolvidas na Itália”, acrescenta Dalmás.
Algo parecido acontece na Florense, referência nacional e internacional em design de móveis. Fundada em 1953, em Flores da Cunha, nos arredores de Caxias do Sul, a empresa surgiu como uma pequena marcenaria que prezava pelo “fatto a mano” (“feito à mão”), característica marcante do “made in Italy”, e esse aspecto artesanal se mantém até hoje. “A Florense preserva um elo muito forte com a Itália, onde temos fornecedores de produtos ‘fatto a mano’ que trazemos para o Brasil para valorizar a binacionalidade”, conta Mateus Corradi, CEO da marca, que realiza uma série de ações para preservar a italianidade presente em suas raízes.
Isso inclui cursos de italiano para funcionários, intercâmbios, colaborações (inclusive com o renomado estúdio de design Pininfarina) e o apoio a iniciativas culturais promovidas pelo Consulado Geral do país europeu em Porto Alegre. “Como temos essa hereditariedade italiana no sangue, a comunicação com a Itália sempre fluiu muito bem. Até hoje importamos muitos produtos italianos, como lâminas de madeira natural, componentes e robôs para pintura, equipamentos industriais. Mais de 50% das máquinas do nosso parque fabril são da Itália”, diz Corradi, que é bisneto de italianos.
Já a empresa de alimentos RAR, fundada por Raul Anselmo Randon, neto de imigrantes da Itália, acredita que a incorporação de tecnologia e conhecimento do país europeu “contribui significativamente para a qualidade dos produtos”. “Todos os equipamentos necessários para a produção do Gran Formaggio, primeiro queijo tipo Grana produzido fora da Itália, são italianos”, exemplifica Sergio Martins Barbosa, presidente da RAR, que também importa vinhos, queijos e vinagres da Itália para o mercado brasileiro.
“A rica herança italiana oferece a oportunidade de absorver técnicas tradicionais e métodos refinados, elevando a qualidade dos nossos produtos”, ressalta. Mas a contribuição da Itália ao desenvolvimento da Serra Gaúcha não se restringe à indústria. Em Flores da Cunha, a Escola de Gastronomia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) oferece cursos em todos os níveis em parceria com o Instituto Italiano de Culinária para Estrangeiros (Icif), no Piemonte.
A escola é dirigida pelo italiano Mauro Cingolani, que veio ao Brasil há cerca de 20 anos para ministrar cursos temporários de gastronomia e acabou fincando raízes na Serra Gaúcha. “Pelo que ouço dos nossos parceiros, amigos e ex-alunos, a escola foi um divisor de águas, tudo mudou, principalmente os ingredientes, porque a gente estimulou os produtores locais a fazer ingredientes que não existiam aqui ou que não tinham demanda, como o cogumelo”, afirma Cingolani.
A Escola de Gastronomia ainda tem parcerias com associações italianas de degustadores de vinhos e de promoção do azeite de oliva e criou o grupo Dolce Italia, que inclui restaurantes, refeitório universitário, cafeteria e serviços para eventos, sempre com inspiração no “Belpaese”. “A Itália desempenhou influência fundamental no desenvolvimento de Caxias do Sul e região, impulsionando setores como a indústria moveleira, metalurgia, plástico e alimentos.
Além de fornecer tecnologia de ponta e maquinário, a herança italiana enraizada nessas empresas fortaleceu a qualidade e inovação em seus produtos.”, diz Celestino Oscar Loro, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. “A presença italiana transcende o âmbito econômico, permeando a educação, a cultura e a culinária, deixando uma marca duradoura no desenvolvimento de Caxias do Sul e contribuindo para a construção de uma identidade única na Serra Gaúcha”, conclui. Fonte: Lucas Rizzi/ANSA.