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Investir nos EUA é uma boa forma de se prevenir em tempos de crise

em Destaques
sábado, 23 de abril de 2022

Caio Fasanella (*)

O Fed divulgou dados esclarecedores acerca das reservas internacionais no mundo em 2021. Segundo o banco central dos Estados Unidos, 60% delas eram mantidas em dólares norte-americanos no ano passado; 21% estavam em euros, 6% em ienes japoneses, 5% em libras esterlinas e 2% no renminbi chinês.

O levantamento permite tirarmos uma conclusão clara: que o dólar é de longe a principal moeda utilizada mundialmente como reserva de valor, além de ser a mais líquida em transações – quando ocorrem entre outras duas moedas, como o real brasileiro e o peso mexicano, geralmente passa pelo dólar como etapa intermediária.

Com esse nível de importância financeira para o planeta, os mercados acompanham o dólar como o principal termômetro da economia global e dos preços dos ativos. Não à toa, indicadores de inflação e juros no território norte-americano são variáveis observadas de perto por investidores de diversos segmentos e influenciam nas suas tomadas de decisão.

Ou seja, essa movimentação comprova o quanto investir diretamente nos Estados Unidos pode ser uma forma de se manter atualizado economicamente, o que é essencial tanto para épocas de prosperidade e crescimento econômico como de instabilidade e crise na economia.

Para um exercício de comparação, peguemos o caso BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são recibos de ações de empresas estrangeiras, mas que são negociadas no Brasil. Há, aproximadamente, 940 BDRs disponíveis no país. No entanto, investimentos diretos na potência econômica por meio de uma conta internacional permitem ao cliente acessar um universo de mais de 6.000 ativos. Essa, contudo, não é a única vantagem dessa via em relação à primeira.

Os BDRs possuem liquidez limitada, o que acaba resultando em maior custo de aquisição para os clientes e menos certeza que uma ordem vai ser executada; para ilustrar o ponto, recibos populares no Brasil, como Tesla e Alibaba, não chegam a 1% do volume de negociação dessas ações existente nos Estados Unidos.

O investimento usando a conta internacional também evita as taxas cobradas sobre os BDRs, que são geralmente de 3% a 5% dos dividendos distribuídos no exterior para investidores brasileiros, e a falta de transparência relacionada a uma taxa de câmbio implícita neles, pois, embora sejam negociados em reais, correspondem a ações com um valor em dólares.

Ainda vale lembrar que atualmente a legislação brasileira concede uma isenção de imposto de renda sobre ganhos de capital para vendas mensais de investimentos no exterior de até R$ 35 mil. Adicionalmente, de maneira geral, não há dificuldade em fazer a declaração à Receita Federal relativa a contas internacionais devido à entrega de informações facilitadas pelas empresas que oferecem esse serviço.

Bem, é perceptível que escolher ter uma vida em dólar de forma direta pode trazer economia na hora de investir. No entanto, além de ser uma forma de garantir um futuro financeiramente mais próspero, é uma alternativa que também pode ser fundamental para a segurança em épocas de crise.

Afinal, considerando a realidade do povo brasileiro, que normalmente tem receitas em reais (como o salário ou aluguel) e despesas cotidianas atreladas ao dólar (como o preço da gasolina ou de eletrônicos importados), o investimento em uma moeda forte tem um poder de proteção contra a desvalorização da moeda nacional em situações delicadas, como temos visto com a inflação.

É, literalmente, uma ação de proteger patrimônio. Em momentos de incertezas, os investidores globais trocam ativos de risco e moedas de economias emergentes (como o real) pela segurança gerada pelos dólares e pela maior economia do mundo – a dos Estados Unidos. Por essa razão, a moeda norte-americana equilibra perdas nas carteiras de investimentos em situações de instabilidade e quedas nas bolsas de valores do mundo.

O exemplo mais recente que tivemos desse fenômeno foi em março de 2020, quando o mercado enfrentou o reconhecimento da pandemia global de Covid-19. Somente nesse mês, o dólar apreciou-se mais de 16% em relação ao real (subiu de R$ 4,47 para R$ 5,20), enquanto o índice de ações brasileiro Ibovespa teve uma queda de 30% aproximadamente no mesmo período (caiu de 104.172 para 73.019 pontos).

Portanto, é essencial ao investidor que haja uma consistência de comportamento e pensamento de longo prazo, o que o investimento externo por meio de uma conta internacional viabiliza.

Como não se pode prever a cotação do dólar, nem o Ibovespa, nem a taxa de juros Selic ou muito menos o futuro, o ideal é que ele busque compor um portfólio equilibrado para, assim, poder aproveitar as subidas e lidar com os impactos negativos do mercado de um modo efetivo. Investir de modo errático ou seguindo modismos não combina com uma vida financeira inteligente.

(*) – Graduado em Engenharia pelo Instituto Mauá de Tecnologia, é Head de Investimentos da Nomad, fintech de abertura de conta corrente e de investimento em um banco norte-americano (https://nomadglobal.com/).