Daniel Pazinatto (*)
A inteligência artificial (IA) está promovendo uma verdadeira revolução em diversos setores, e o mercado imobiliário não é exceção. Ao analisar grandes volumes de dados, a IA tem o potencial de prever a valorização de imóveis e bairros com certa precisão, transformando o modo como compramos e investimos em propriedades. O que antes era uma vantagem exclusiva de investidores experientes, capazes de avaliar de forma quase intuitiva as tendências imobiliárias graças aos anos de expertise prática, agora pode ser acessível a qualquer comprador, resultando em transparência e eficiência na tomada de decisão.
A incerteza sempre fez parte do mercado imobiliário, especialmente para aqueles que não são especialistas na área. A decisão de adquirir um imóvel envolve uma série de variáveis, como localização, infraestrutura futura, tendências de valorização e muito mais, variáveis essas que são amigas íntimas dos profissionais veteranos no mercado, mas desconhecidas para os iniciantes e para os consumidores gerais. Nesse contexto, a IA surge como uma aliada poderosa.
Historicamente, falar de preço de imóveis sempre foi um problema e continua sendo até hoje. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha em parceria com o Grupo QuintoAndar, divulgada em 2024, dois a cada três brasileiros já desistiram de comprar, vender ou alugar um imóvel por medo de fazer um mau negócio e 84% dos entrevistados relataram dificuldade para obter informações precisas sobre qual seria o preço adequado. Com a tradicional estratégia de estipular valores acima do esperado para expandir a margem de negociação e a volatilidade dos valores decorrente das tendências de valorização, a insegurança evidentemente não é infundada, mas a inteligência artificial tem incidido nesse medo ao possibilitar a análise de dados em uma escala e velocidade que nenhum ser humano poderia igualar.
Um dos principais benefícios da IA no mercado imobiliário é a capacidade de cruzar milhares de dados para estimar se um imóvel tende a valorizar ou desvalorizar ao longo dos anos. Entre os principais fatores analisados estão o crescimento populacional, a infraestrutura planejada, o histórico de valorização, a segurança e a qualidade de vida na região, bem como a demanda por aluguel. Esses são alguns dos aspectos cruciais que influenciam o valor de um imóvel e que podem ser precisamente avaliados pela tecnologia, proporcionando informações valiosas para qualquer tomada de decisão.
Por exemplo, regiões que recebem mais moradores tendem a valorizar, e a IA pode prever esse crescimento populacional com base em dados demográficos. Além disso, a análise de projetos de infraestrutura, como novas linhas de metrô, avenidas ou empreendimentos comerciais, indica áreas com potencial de valorização no futuro. Ademais, o próprio histórico de valorização de imóveis na região também é um indicativo importante, e os recursos tecnológicos podem identificar tendências de crescimento com base em transações passadas.
Para além desses fatores, a segurança e a qualidade de vida são fatores cruciais para muitos compradores de imóveis. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, revelou que mais de 60% das pessoas considerariam pagar valores acima da média do mercado em imóveis beneficiados por uma localização privilegiada e por segurança, reforçando a relevância desses aspectos. Nesse contexto, a IA pode analisar índices de criminalidade, poluição sonora e qualidade do ar, fornecendo informações valiosas sobre como esses aspectos podem influenciar os preços dos imóveis. Além disso, para investidores que buscam imóveis para aluguel, é possível prever a demanda por locação, ajudando a determinar se o investimento será lucrativo.
Casos reais ilustram como a inteligência artificial já está sendo aplicada no mercado imobiliário. A startup brasileira Loft, por exemplo, utiliza a IA para precificar imóveis de forma mais justa e identificar regiões promissoras para investimento. Nos Estados Unidos, plataformas como a Zillow empregam machine learning para calcular valores de imóveis e sugerir tendências do mercado. Até mesmo grandes construtoras estão recorrendo à IA para decidir onde construir novos empreendimentos com base em dados de valorização futura.
Em suma, é possível constatar com segurança que o impacto da IA no mercado imobiliário é significativo – de forma positiva – para o consumidor. Quem está comprando um imóvel para morar pode escolher um bairro com maior potencial de valorização, garantindo um bom investimento a longo prazo. Pequenos investidores, que antes precisavam confiar em intuição ou recomendações de terceiros, agora podem tomar decisões mais seguras, baseadas em dados concretos, e a negociação de preços também se torna mais transparente. No entanto, é importante destacar que a IA não substitui a avaliação humana e a experiência de profissionais do setor imobiliário. Ela é uma ferramenta poderosa que complementa o trabalho de profissionais e auxilia consumidores inexperientes. Se utilizada da forma correta, a tecnologia pode ajudar a todos e transformar o mercado imobiliário, tão movimentado por natureza, em um setor ainda mais aquecido e próspero.
- (*) Especialista em gestão de empreendimentos e sócio-diretor da Antonio Andrade.
