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Economia colaborativa: permuta estimula rede entre pessoas

em Destaques
terça-feira, 12 de maio de 2020

Com uma inevitável e forte recessão no Brasil que pode chegar a quase 2% do PIB, segundo estudo do Ipea, os recursos financeiros estarão cada vez mais escassos, fazendo com que, mais do que nunca, seja necessário um modelo econômico sustentável, colaborativo e compartilhado. Juliana Rodrigues Martins Cardoso, como advogada, já precisou atender muitos clientes que, embora precisassem muito, não tinham como pagar pelos honorários advocatícios.

Por isso, quando ela se cadastrou na plataforma de permutas multilaterais (XporY.com) há dois anos, ela encontrou a oportunidade de ajudar muita gente que não tinha condições de contratar seus serviços. Para ela o sistema de permuta promove uma rede de colaboração, uma vez que possibilita outra formas de negociação, que não só é feita com dinheiro. “Se fosse para eu receber só em dinheiro, muitas pessoas não teriam como pagar pelo serviço que ofereço”, destaca a advogada, que tem usado seus créditos na moeda virtual que recebe por meio da plataforma de permutas para comprar vários itens e serviços, de móveis à carta de crédito em uma escola.

O especialista em empreendedorismo e inovação, e fundador da (XporY.com), Rafael Barbosa, afirma que o atual momento de retração da economia e até mesmo o sentimento de solidariedade para com quem teve sua renda afetada em virtude das medidas de isolamento social contra a pandemia da Covid-19 estimulam o crescimento das permutas. “Na primeira semana da quarentena percebemos que nossa média diária de cadastros aumentou de 15 para 60, hoje nossa média de novos cadastros ultrapassa 70”.

Para Barbosa, a medida que os impactos econômicos da pandemia se aprofundarem, empresas e as pessoas de uma maneira geral terão na permuta uma forma de manter alguma atividade. “Com a inevitável e forte recessão global que se aproxima, os recursos financeiros estarão cada vez mais escassos, por isso, mais do que nunca, precisaremos de um modelo econômico sustentável, colaborativo e compartilhado”, avalia.

Uma projeção econômica feita pela agência internacional Morningstar, empresa de dados e análise de investimentos, corrobora para essa avaliação de que os recursos financeiros serão cada vez mais escassos. O estudo aponta para uma inevitável retração da economia global gerada pelo impacto da pandemia, com uma redução de 5% do PIB mundial em 2020, numa visão mais pessimista, porém mais provável; uma queda de 0,1%, numa perspectiva mais otimista.

Após perder o emprego há três meses, a plataforma de permutas multilaterais tem sido a salvação da auxiliar de serviços gerais Thamara Coutinho, que há dois meses tem oferecido seus serviços de diarista. “Foi um amigo que me indicou e me ajudou a cadastrar. Vendo minhas faxinas a
X$ 160 e tem sido muito bom, pois com os X$ eu compro roupas, calçados para minha filha e para meu marido”, diz a diarista.

Thamara destaca que o créditos em X$ ajudam muito, pois, desde que ficou desempregada, o sustento da casa ficou só por conta do marido, que trabalha como pedreiro. “Se não fosse esses X$ que ganho fazendo minha diárias, acho que o aperto financeiro seria ainda maior”, diz a auxiliar de serviços gerais que também troca seus créditos na moeda virtual em restaurantes e pizzarias. Para ela, a permuta é um sistema em que uma mão leva a outra. “Foi algo que me ajudou, pois eu estava precisando trabalhar e muita gente que às vezes não tem tempo e nem dinheiro para pagar por uma boa faxina, acaba conseguindo contratar o serviço em permuta”, afirma.

O atendente comercial Guilherme Lourenço sempre fez do desapego quase que um modo de vida e encontrou na plataforma de permutas multilaterais uma forma mais fácil de seguir essa filosofia. “Você desapegar do que não precisa gera sim uma corrente colaborativa. Pois o que não serve mais para uma pessoa passa a servir para outra”, afirma, ao contar que
tem um emprego que lhe garante uma renda fixa e que usa a plataforma justamente para desfazer de qualquer item que não lhe serve. “Já disponibilizei talheres, panelas, copos, vaso sanitário, um tênis que nunca useis e até uma carro”, revela.

“Receber em permuta de um cliente que não pode pagar em espécie, desfazer de itens que você não precisa para outro poder usar, ou poder pagar uma dívida com seu serviço, tudo isso são formas colaborativas de se negociar e geram uma rede de colaboração entres profissionais e empresas”, ressalta Rafael Barbosa. Na plataforma (XporY.com), empresas de todos os portes, desde micro a indústrias e profissionais autônomos, oferecem os mais variados serviços e produtos em troca de outros. Tudo é negociado na moeda virtual X$, que é equivalente ao Real.

O usuário se cadastra gratuitamente, sendo necessário oferecer um produto ou um serviço. Pode ser um produto, um serviço ou um artigo de desapego. O valor, ao invés de ser em Reais, passa a ser precificado pela moeda da plataforma, denominada X$. Se a oferta anunciada é consumida, o usuário recebe o crédito e pode comprar outras ofertas cadastradas pelos demais participantes da plataforma, permitindo assim o consumo de opções variadas de produtos e serviços.

O acesso à XporY.com é aberto para todos e pode ser feito pelo aplicativo para iOS ou Android, ou pelo site (www.xpory.com). Além da ausência do custo de adesão, os membros da plataforma também não pagam um valor mensal de manutenção e nem comissão sobre as vendas no site. Somente na hora de consumir, é que se paga apenas uma taxa de 10% em reais sobre o valor da compra.