Com o crescimento de soluções voltadas à sustentabilidade, investimento em startups ESG no Brasil atingiu recorde em 2022, somando 90 rodadas e movimentando US$ 861,6 milhões
Circular Brain, LandApp, Inspectral, Predativa e BVL Vida são exemplos de empresas que promovem iniciativas sustentáveis em diferentes áreas
A 8ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), realizada entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, coloca os holofotes do mundo mais uma vez no rumo das ações climáticas para os próximos anos. Além de autoridades mundiais, o encontro promete reunir a maior delegação brasileira da história do evento, incluindo 15 ministros de Estado e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que levará como pauta as ações sustentáveis da agropecuária brasileira e o apoio à transição para uma economia de baixo carbono.
O país, que é protagonista na agenda ambiental por seus recursos naturais, vive um aumento nas soluções voltadas à sustentabilidade, reunindo atualmente cerca de 950 startups ligadas à práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Os dados são do relatório ESG Report 2023, da plataforma Distrito, e ainda mostram que os investimentos no Brasil em negócios da modalidade atingiram número recorde no ano passado, somando 90 rodadas e movimentando US$ 861,6 milhões. Ao considerar os últimos 13 anos, as empresas brasileiras do segmento levantaram um total de US$ 2,43 bilhões em 501 rodadas.
Para Orlando Cintra, fundador e CEO do BR Angels, grupo de investimento-anjo que identifica e investe em startups disruptivas, tais iniciativas precisam estar presentes não apenas em companhias de médio e grande porte, mas também em startups que já nascem com esse DNA.
“Assim como as questões climáticas, o ESG desempenha um papel cada vez mais importante, à medida que consumidores e investidores procuram empresas sustentáveis, cujas operações consigam atender tais exigências a curto e longo prazo. Essas práticas são uma ferramenta poderosa para canalizar oportunidades de crescimento, reduzir custos e fortalecer a marca. Sem dúvidas, esses critérios também são utilizados por investidores socialmente conscientes, como forma de avaliação de potenciais investimentos”, comenta Cintra.
A seguir, conheça alguns exemplos de startups brasileiras que promovem a sustentabilidade em suas soluções e podem ser aliadas na luta pelo clima:
Fomentando a Economia Circular através da tecnologia
Uma das startups que vem chamando atenção por conta de sua atuação sustentável é a Circular Brain, circulartech que mitiga o impacto ambiental de resíduos eletroeletrônicos. Fundada em 2019 por Marcus Oliveira, Fernando Perfeito e Marcello Fornari, a startup estruturou a primeira plataforma digital do país que conecta recicladores com compradores desse tipo de resíduo, integrando toda a cadeia produtiva.
A partir dessa ideia, desenvolve programas de logística reversa e soluções globais de destinação ambiental de eletroeletrônicos para diferentes fabricantes e importadores desses itens. Por meio da plataforma, empresas compradoras de materiais, partes e peças de eletroeletrônicos podem se conectar com empresas que ofertam serviços ambientais, corporações e fabricantes para elaborar e gerenciar um programa de destinação adequado às suas necessidades.
Ao mesmo tempo, a Circular Brain permite que recicladores se especializem e se certifiquem em resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, o que é obrigatório para fazer parte dessa cadeia e gera impacto com empregos diretos e indiretos.
Logística e ESG para a construção civil
Já a LandApp, plataforma de logística de materiais e resíduos sólidos da construção civil, é uma startup que iniciou suas operações em 2020 e se tornou a primeira solução tecnológica e sustentável para construtoras e caminhoneiros no Brasil.
Fundada por Matheus Protti e Mayara Protti, a plataforma funciona totalmente online e permite que o cliente solicite e acompanhe o transporte de materiais e resíduos da sua obra de forma segura e confiável. Por meio de tecnologia e Big Data, a startup proporciona transparência a todo o fluxo de materiais e resíduos da Construção Civil.
Sua ferramenta é fácil de usar e ideal para quem precisa fazer o transporte de diversos tipos de materiais e resíduos, simplificando processos e promovendo a governança. Com um modelo escalável, atende diversos segmentos e regiões simultaneamente com mais eficiência. Além disso, através do programa “Aterro Zero LandApp”, é possível compartilhar materiais entre obras, o que reduz as distâncias percorridas pelos caminhões e, como consequência, diminui os custos e as emissões de CO2. O impacto da utilização da plataforma em seu pouco tempo de operação já alcançou a economia de mais de 710 toneladas de CO2, além de mais de um milhão de quilômetros rodados economizados. Com o Aterro Zero, já foram reutilizados mais de 180 mil metros cúbicos de resíduos.
A LandApp promove ainda o Inventário de ESG completo de seus parceiros, dando transparência aos aspectos ambientais e sociais de sua operação, e assim implementando o pilar da Governança na Construção Civil. O plano é também aumentar cada vez mais o número de obras dentro do padrão Carbono Zero LandApp, que através da plataforma promove economia significativa na quantidade de carbono emitida e, em relação ao remanescente, realiza a aquisição de créditos de carbono, zerando a emissão do poluente nessas obras.
Monitoramento ambiental, de sistemas aquáticos e do agronegócio
Outra startup que se destaca é a Inspectral, que utiliza as mais recentes tecnologias exponenciais para oferecer eficiência e otimização no monitoramento ambiental, de corpos hídricos e do agronegócio. Em operação desde 2019, a empresa foi fundada pelo casal de pesquisadores Alisson do Carmo e Nariane Bernardo.
A ferramenta integra alta tecnologia, como Inteligência Artificial, data science, imagens multiespectrais, modelagem bio-óptica, geoprocessamento e imagens de drones e satélites, em uma plataforma SaaS para obter informações de forma totalmente remota, escalável e rapidamente atualizável.
Dessa forma, possibilita que empresas passem de um acompanhamento ambiental pouco frequente para um monitoramento mensal e até mesmo semanal, gerando dados e métricas que ajudam na tomada de decisão e na otimização dos processos do negócio.
Revolucionando o uso de insetos na agricultura
Atuante no mercado agrícola, a Predativa é uma startup com tecnologia de ponta e que funciona como alternativa para o controle biológico de pragas agrícolas. Através do uso de agentes macrobiológicos, a agricultura vem crescendo com a redução de custos, o aumento de produtividade e sustentabilidade.
O uso de estratégias na agricultura sustentável constitui o Manejo Integrado de Pragas e dentro de seus pilares, o controle biológico contribui para produzir alimentos mais saudáveis e reduzir o uso de produtos químicos na agricultura. Contudo, é fundamental incrementar tecnologias inovadoras ao controle biológico para que seja ampliado sua eficiência.
A solução da Predativa reduz os custos operacionais, melhora a eficiência na produção agrícola e resolve os problemas derivados pelos insumos químicos. Isso promove uma agricultura mais sustentável, preservando recursos naturais e protegendo o meio ambiente. A companhia faz parte do portfólio de aceleradas da Cyklo Agritech, uma aceleradora de projetos e startups voltada para a agricultura, pecuária e agronegócios, que busca colaborar para o desenvolvimento do segmento no Brasil.
“É interessante observar como a Predativa incorpora a seleção natural, que é o mecanismo fundamental por trás da evolução das espécies. Ao utilizar insetos para o controle de pragas, estamos aproveitando a interação entre organismos vivos, tal como acontece na natureza. Isso demonstra uma compreensão profunda da importância da diversidade biológica e do equilíbrio ecológico na agricultura. É um exemplo notável de como podemos aprender com a natureza para solucionar desafios e promover a sustentabilidade ambiental”, comenta Pompeo Scola, CEO da Cyklo Agritech.
Nutrição para a vida do solo
Também presente no portfólio de aceleradas da Cyklo, a BVL Vida é outra startup do setor agro que entende como é possível praticar agricultura regenerativa em grande escala, produzindo alimentos que nutrem de forma saudável, com redução de impactos ambientais. Dessa forma, a empresa oferece produtos e serviços que promovem o equilíbrio químico, físico e biológico do solo, além do equilíbrio nutricional das plantas para se desenvolverem saudáveis e produtivas garantindo, assim, rentabilidade à atividade agrícola.
Já em seu processo industrial, a startup destaca-se por ser autossuficiente em energia renovável, reutilizando a água residuária no próprio processo de produção, além de captar mais 1,5 milhão de litros de água da chuva por ano para utilizar em suas atividades industriais.
“A agricultura sustentável deve contemplar os pilares ambiental, social e econômico entendendo que um ambiente produtivo saudável que respeita as individualidades humanas contribui para gerar estabilidade econômica e a continuidade da atividade para outras gerações”, conclui Scola.