Cesar Sponchiado (*)
A TV que conhecemos, também chamada de linear, está se transformando. O formato tradicional é transmitido no modelo broadcasting, um sinal que é enviado por antenas, cabos e satélites pra todo mundo ao mesmo tempo. Desta forma, as emissoras monetizam tanto com anúncios publicitários – na TV com sinal aberto – como também com assinaturas, no Pay TV.
Com o advento da internet de alta velocidade, criou-se uma nova modalidade para se transmitir vídeo: O OTT (Over the top), tecnologia para distribuir conteúdos pela internet em que é possível difundir um sinal único, chamado de streaming, para cada pessoa nos dispositivos conectados. Desta maneira, a TV que antes era um canal de distribuição em massa passou a ser também um meio para distribuição em nichos e campanhas um para um.
Estas plataformas podem veicular peças para cada consumidor sob demanda, em modelo chamado de VOD (Vídeo On Demand). Um exemplo, os conteúdos de plataformas como a Netflix e o Amazon Prime Video, onde são disponibilizados catálogos de filmes e séries para serem assistidos a qualquer momento.
Acontece que essa tecnologia de streaming pode incorporar características da TV linear também, como a necessidade de determinado conteúdo ser em tempo real, a exemplo de uma partida de futebol ou noticiário. Com isso, você passa a ter o melhor dos dois mundos: a facilidade de entregar conteúdo personalizado para cada pessoa e também em tempo real, como uma emissora tradicional faz em suas transmissões ao vivo.
A Amazon Prime já está transmitindo a NFL (liga de futebol americano) e a Netflix já admitiu que poderá exibir esportes e noticiários em sua plataforma, saindo assim do tradicional VOD de catálogo para live streamings. Nesses modelos de OTT, as plataformas rentabilizam com dois formatos principais: o de assinatura, chamado de SVOD (Subscription VOD), e o de anúncios, chamado de AVOD (Advertising VOD).
O Brasil, por não ter um alcance de internet abrangente como nos EUA, nem modelos comerciais que permitam substituir o conteúdo gratuito da TV aberta, levará mais tempo para capitalizar o streaming com assinaturas. Percebendo isso, recentemente anunciaram que vão operar no país duas plataformas de streamings bancadas por anúncios e 100% gratuitos: A Pluto TV, do grupo ViacomCBS, e a VIX Cine e TV. Ao mesmo tempo, as emissoras abertas correm atrás e lançam suas plataformas online que no futuro substituirão o sinal de antena.
Por conta de poder entregar conteúdo um para um, é possível monetizar com anúncios personalizados, abrindo um leque para os anunciantes oferecerem os seus conteúdos da mesma maneira que fazem hoje no online. Por conta disso, a conta fecha e mais pessoas podem migrar da TV tradicional para o OTT.
Nos EUA, onde esse mercado está mais evoluído e alguns anos à frente do nosso mercado brasileiro, os anunciantes têm feito o uso dos novos recursos para entregar as suas campanhas com mais assertividade. Ações para alcançar as massas são lançadas na TV tradicional para que impactem o maior número de pessoas possível. Muitas dessas iniciativas, no entanto, são testadas antes nos nichos, usando as tecnologias OTT.
A TV tradicional no Brasil está presente em aproximadamente 97% dos lares e o OTT ainda não passa dos 40%, segundo estudo da Amdocs. A internet de alta velocidade no país, com qualidade para assistir conteúdo via streaming, ainda não atinge a maioria dos lares brasileiros, e os planos de internet móveis são em sua maioria pré-pagos e com limites baixos de tráfego. Por conta disso, a transformação para o modelo ainda levará alguns anos.
O que já podemos observar nesse momento é que essa evolução da TV é uma realidade e beneficia não só o consumidor, mas também as marcas, que poderão continuar se comunicando com seus públicos por meio de anúncios em plataformas AVOD e patrocínio de conteúdos, porém de uma maneira cada vez mais precisa e mensurável.
(*) – É fundador e CEO da TunAd (https://tunad.io/).