Hermano Pinto (*)
Muito tem sido falado sobre a ampliação das interações entre seres humanos, informações e toda sorte de “coisas” no espaço cibernético, uma nova dimensão denominada Metaverso. Porém, a compreensão da potencialidade desta nova ferramenta é ainda tímida, da mesma forma, quando a possibilidade de compras online foi criada há 25 anos, e poucos apostavam em seu sucesso e aplicação ampla.
O metaverso ainda está em sua “infância” e irá ganhar a cada dia mais consistência e maturidade e seus recursos tecnológicos serão explorados mundo afora em diversas frentes nas esferas dos negócios. Pesquisadores australianos mostram, em estudo recente, que os óculos de Realidade Virtual (RV) demonstram ter a capacidade de coletar cerca de 2 milhões de informações relacionadas a movimentos corporais (movimentos de olhos, batimentos cardíacos e tantos outros) em um intervalo de apenas 20 minutos.
Esses dispositivos são um dos principais meios de acesso aos modelos de metaverso. Suas aplicações reúnem uma série de novidades no universo tech que foram embarcadas recentemente dentro desse conceito. Estou falando de realidade virtual, realidade mista e uso de simbologias dos games que vêm sendo desenvolvidas progressivamente. Agora, o que falta nesse modelo, tanto no B2B quanto B2C, é a monetização.
Como é que efetivamente se monetiza isso? Um dos primeiros modelos utilizou NFTs (Non-Fungible Token ou Token não fungível), mas este é um modelo que tem seu limite dentro da capacidade de abrangência do mercado. Eu enxergo muitas possibilidades de sucesso do metaverso voltado às empresas (B2B), em função das opções de venda consultiva e gestão de marca que se apresentam, o que induz a uma modelagem de monetização indireta (CAPEX x OPEX). Já no caso do B2C (consumidor final), abre-se a oportunidade de desenvolver campanhas muito nichadas, bem específicas.
A partir daí, seja por NFT ou qualquer outro tipo de moeda, criptomoeda, é possível conseguir efetivamente chegar a um outro tipo de possibilidade de monetização do modelo. Nesse momento, é algo muito custoso, e essa é a grande questão que fica: Como reduzir os custos no longo prazo? Escala e uso intensivo de Inteligência Artificial podem ser as respostas. Quanto à questão da infraestrutura, estamos ainda muito aquém da necessidade. Seja por oferta de capacidade como de penetração ubíqua das redes.
Esse foi um grande tema durante o Mobile World Congress, em Barcelona, e que também será debatido durante o Futurecom deste ano. Certamente, haverá necessidade de uma estrutura de rede muito mais densa e poderosa, que possa oferecer grande capacidade de gestão de elementos e interações com latência baixa e velocidade compatível para as percepções a serem geradas.
Neste cenário, entram o 5G, a computação de borda, as conexões óticas e diversas novas tecnologias que permitam produzir os efeitos interatividade virtual para um grande volume de pessoas atuando dentro de uma mesma plataforma. Em 2021, no piloto que fizemos no Metaverso Futurecom, vimos que essa é uma demanda específica mais críticas, quando se amplia fortemente a interatividade e a percepção de imersão em um mundo paralelo.
O metaverso é basicamente isso, onde se incluem cenários padronizados, porém interativos com algumas áreas programadas, e cujo processamento paralelo também é outro limitante. A arquitetura em borda (MEC – Multi-Cloud Edge Computing) tem um papel fundamental para a produção de metaversos críveis e de ampla imersão. É fato que passa também pelo ponto da monetização, dado o elevado custo de produção e provisionamento da solução.
Assim, além do pesado custo de infraestrutura não se pode menosprezar o custo da programação em si, que possui alguns modelos de monetização, já praticados há anos pelo games, sejam com gadgets virtuais ou reais. Para adentrar no mundo do metaverso, há alguns passos e cuidados a serem cumpridos. O primeiro é o planejamento: é preciso planejar efetivamente o que se quer fazer. Sem contar a necessidade de entendimento do mercado com o qual se vai conversar.
É importante segmentar as personas e como seria a monetização para cada perfil. E aí os investimentos podem ser maiores ou menores. O planejamento é, sem dúvida, o primeiro passo. O segundo, consiste em avaliar a estrutura disponível, seja em termos de regionalização e localização como das ações pretendidas em metaverso. É preciso verificar a disponibilidade de infraestrutura, seja em termos de recursos dedicados/compartilhados como de pontos de acesso e estabilidade de rede.
Há de se observar também o tipo de resposta a ser oferecido aos seus clientes, e aí surge mais uma vez a questão do grau de interatividade pretendido. Essa interatividade é crucial para identificar o quão importante será o uso das ferramentas de metaverso a serem embarcadas na plataforma. Outro ponto relevante a ser considerado com atenção é a execução.
É essencial caracterizar a infraestrutura necessária e disponível, planejar o que o metaverso impacta em termos de ampliação de demanda e uso, pois isso pode travar a plataforma e prejudicar a experiência do usuário. Como tudo em TI e em Telecom, ainda que as redes estejam cada vez mais flexíveis, há que se ter parâmetros bem definidos para entregar uma boa qualidade de serviço (QoS) e de experiência para o usuário (QoE).
Eu acredito muito no potencial do metaverso em função das possibilidades de imersão para o usuário. Fazendo uma comparação com a TV em broadcast, quando você é apenas um observador externo da ação, no metaverso você passa a fazer parte daquela ação, modificando-a dentro das opções possíveis e interagindo em relação peer-to-peer ou peer-to-multipeer.
Mas toda essa dinâmica exigida pelo metaverso tem que ser amplamente debatida em vários aspectos, seja em termos de oferta, bem como das reais demandas do mercado, para conseguirmos avançar e evoluir nessa modalidade, que traz impactos concretos e efetivos para as tecnologias que estão aí como a Nanotecnologia, a Internet das Coisas (IoT), Blockchain, 5G e 6G, Big Data e tantas outras.
Vale lembrar, que o 6G irá capacitar a chamada internet táctil, o que abre uma imensa gama de novos serviços de experiência para consumidores e clientes corporativos.
(*) – É diretor do Portfólio de TI da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, cuja edição 2022 será realizada de 18 a 20 de outubro, no São Paulo Expo.