Tudo de novo
Quem quer que estivesse fora do país por uns meses e voltasse diria que alguma coisa está mudando: para o bem ou mal? Mesmo que acordasse de um sono profundo, de um estado de coma pensaria que alguma coisa mudou?
Mudar em política não é da noite para o dia. São coisas que se acomodam ou se arranjam em anos, talvez muitos anos. Quem voltasse viria que velhas figuras da política ainda estão na mídia. Quem era acusado agora virá acusador. O que lhe parece? Surreal? Não, normal. Em política parece-me que tudo é permitido.
Nesse sentido de acordar e viver tudo de novo só que meio parecido. Considero que sempre é necessário que exista um ato de ruptura para que a mudança possa ser profunda. Vamos ao que vivemos: escândalos são bons motivadores. Vejamos o caso Watergate.
Já sei: você me dirá que foi nos Estados Unidos nos anos setenta. Só peguei como um exemplo: um caso emblemático que fez um presidente renunciar. Collor renunciou depois que se viu em uma situação de denúncia, apesar do processo de “impeachment” ter se concretizado.
Getúlio se matou depois que não conseguiu lidar com os desmandos de sua guarda pessoal, dando asas aos seus desejos passados. Há sempre um fato que pode gerar uma quebra no estado das coisas harmoniosas ou estabelecidas. Há quem torça por fatos chocantes, que prefira atear fogo para justificar suas crenças ou privilégios, para que haja um rompimento no que se pode chamar de governabilidade.
Quando o desequilíbrio de forças faz com que pensemos na razão de estarmos envolvidos em uma mesma sociedade que não tem uma solução que possa ser considerada como viável para os mais simples problemas. Quando nos vemos nessas condições, parece-me que o melhor a fazer é mudar com o que está, aparentemente, desorganizado.
Aí vem uma pergunta clássica: – quantos estão sensibilizados com essas questões? Quantas pessoas têm consciência de que uma mudança poderia ser mais promissora do que deixar as coisas do jeito que estão? Em política, quem não participa ativamente, mal sabe o que poderia lhe ser mais conveniente a não ser o que lhe motiva em suas vontades básicas ou as relativamente secundárias.
Refiro-me àquelas que nos mantém com algum alimento na mesa, alguma segurança, um emprego, mesmo que em subcondições, e relativa mobilidade urbana. Sempre me provoco a dar alguma solução, para ir melhorando o entorno de onde vivo. Uma solução simples é sempre mais bem-vinda do que mudanças radicais. Daí penso sempre na votação do ano seguinte: de não votar em quem não fez nada ou de quem fez com que estivéssemos nesse clima de depressão?
Mas, fico pensando que os políticos que virão poderão incorrer na mesma prática. Se pensar assim, jamais haverá uma mudança que seja consistente. E deixar os que estão aí? Nem sempre será uma solução. Que situação é essa que parece se repetir. Quando mudaremos?
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. E-mail: ([email protected]).