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Tem mais algum?

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 12 de abril de 2018

Tem mais algum?

Ele era considerado um sonhador, uma pessoa que vivia em uma  realidade que só ele percebia.

Fez um esforço enorme para convencer a opinião pública do seu país que sua ideia era uma proposta para se acabar com as guerras para sempre. Era alvo de críticas jocosas. Deus organizou o mundo com apenas 10 mandamento. O presidente precisou de 14, diziam os seus críticos. Woodrow Wilson propôs, nos seus 14 Pontos, que todas as nações do mundo se reunissem em uma organização internacional e que todos os conflitos fossem resolvidos através de negociações e não mais de guerras.

A primeira guerra mundial tinha deixado uma herança de dez milhões de mortos e a destruição de muitos povos, especialmente na Europa. Wilson bem que tentou. Passou o último ano viajando pelos Estados Unidos até ser atingido por um ataque cardíaco. Arrastou-se até o final do mandato. Ele assistiu o Congresso rejeitar a participação do seu pais na Liga das Nações. Que destino poderia ter uma organização internacional sem a participação da maior potência econômica e militar do planeta? Morreu em 1924.

Era um estadista.

Gostava de cuidar do jardim. Tinha mais de 80 anos e se afastou da política. Nem mesmo o fato de ter recebido o Premio Nobel de 1953, pela obra ‘A Segunda Guerra Mundial’, mudou seus hábitos simples. Durante o conflito assumiu o posto de primeiro ministro britânico com os nazistas nos calcanhares da Albion. Winston Churchill, assolado pela derrota do exército no continente e a ameaça de um desastre em Dunquerque e a oposição que queria assinar a paz com Hitler, tinha pouco tempo para decidir.

Seria mais fácil iniciar uma negociação com os nazistas e permitir que eles se voltassem contra seu inimigo ideológico, a União Soviética. De outro lado teria que se submeter ao domínio da Alemanha e seus aliados. Optou por resistir. Avisou a todos que só teriam sangue, suor e lágrimas. Correu o risco de ser derrubado do poder pela oposição que queria por fim na guerra a qualquer custo. Os Estados Unidos demoraram para ajudar. Durante 60 dias a aviação inimiga bombardeou Londres. Nunca tantos deveram tanto a tão poucos, foi a sua mensagem referindo-se aos pilotos da RAF depois que os nazistas desistiram da invasão da Grã Bretanha. Perdeu as eleições logo depois.

Era um estadista.

Não aceitou a ameaça que a constituição só seria aceita se fosse digna do chefe. Trabalhava com seus irmãos e membros da oposição para transformar o Brasil em um país constitucional, moderno e liberal. Combateu arduamente a escravidão e mais de uma vez disse que isso envergonhava o pais. José Bonifácio bateu de frente com o candidato a déspota, o imperador dom Pedro I. Teve tempo para decidir se ficava ao lado dos áulicos, dos amigos do imperador, dos que bajulavam o poder e usufruíam das benesses do governo, ou permanecer fiel aos seus ideais liberais adquiridos na Europa da revolução francesa.

O embate se deu na assembleia nacional constituinte e D. Pedro quando percebeu que Bonifácio e seus apoiadores ganhavam espaço, não teve dúvida, mandou a tropa cercar o prédio. O homem que tinha se empenhado pela independência do Brasil, montado a estrutura do novo estado, combatido a resistência das tropas portuguesas, foi preso. Exilado na França, retornou ao país onde tinha vivido parte de sua juventude. Depois de seis anos voltou e concordou em assumir a tutela do filho de seu inimigo. A estabilidade do seu pais era mais importante.

Era um estadista.

Na sua opinião falta algum brasileiro nesta lista?

(•) – É âncora e editor chefe do Jornal da Record News, emissora aberta de notícias.