Registros
Vivemos dias que podemos considerar que haverá algum destaque na narrativa histórica. É evidente que fatos serão lembrados como marcantes outros nem tanto. Quem se lembrar desses dias poderá contar sua versão ou dependerá de quem os registrou.
Dizem que a história é contada por vencedores ou por quem consegue encontrar o maior número de informações sobre um assunto. Quem tentar entender o que está ocorrendo, sabe que dependendo do lado em que se encontrar, irá conseguir elementos para fundamentar a sua variante dos fatos.
Há quem insistirá que estamos andando para trás ou quem dirá que estamos nos livrando de todos os males de mais de uma década de desgoverno. O que se sabe é que quem fizer mais propaganda de suas falas ou ações poderá manter sua mensagem validada por mais tempo. Até pode ser perpetuada, se for atrelada a um fato com algum forte apelo emocional.
Recordemos as impressionantes imagens do cortejo fúnebre em 1954 quando Getúlio Vargas se suicidou ou em 1984, os dias de sofrimento de Tancredo Neves até a sua morte.
O passado pode ser revisitado a qualquer momento, com a certeza de que iremos encontrar dados ou alguém ainda vivo que conte o que sabemos ou algum segredo que ficou limitado num grupo formador de decisões. Mas, mesmo assim é algo que ficará à margem de um entendimento maior. Nem todos terão acesso nem todos compreenderão o que de fato foi o motivo de uma mudança ou de uma interpretação que possa ter resultado naquele fato jurídico, político ou social. É um acontecimento histórico, afinal de contas.
Nem se saberá, senão pelo olhar de quem conta aquele fato, o quanto desses momentos será recordado como sendo de discórdias ou convergências. Dependendo do lado que está relatando irão mostrar choros, cabeças baixas e de outro os gritos de vitória ou palavras de estímulo. As cenas irão se repetir e cada vez mais bombardear nossa mente com imagens desses dias de glória para uns ou inglória e fracasso para outros.
Se bem sabemos, registros históricos podem ser usados, a quem quiser construir argumentos, para defender ou atacar uma posição ideológica.
Gostaria de poder registrar quando conseguíssemos nos livrar de figuras graúdas que têm pendências com a Justiça, de acabar com o foro privilegiado, e de ter uma legislação que possibilitasse acabar com brechas que mantém as conveniências de políticos transgressores.
Enquanto isso não vem, fico alerta quando alguém usa em sua defesa palavras de ordem, apenas para ter uma bandeira publicitária – aquelas tais frases de efeito – de pura manobra. Assim como o uso da palavra ‘democracia’, quando alguém diz que não há, crê estar com algum direito cerceado, mas só quando se sente atacado, pois goza de todos seus direitos.
Uma coisa é como se admite ser um democrata, mas no fundo é um tirano onde só sua política é vantajosa. Os registros mostram como é possível manipular.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).