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Posto Ipiranga

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Posto Ipiranga

Os policiais estavam postados bem na curva. Dessa forma os motoristas e motociclistas não poderiam escapar da batida.

Ou passavam ou eram parados pelos agentes de trânsito. Uma boa parte das motos fiscalizadas, os condutores não usavam o capacete e por isso não poderiam prosseguir. Teriam que ir buscar um ou pedir para que outra pessoa levasse o veículo para a casa. Mas há um jeitinho para
essa situação.

O guarda de trânsito explicava que a multa por conduzir moto sem capacete era alta mas se fosse premiado com uma caixinha tudo poderia se resolver pela metade do preço. A maioria esmagadora pagava e continuava o trajeto sem o equipamento considerado de segurança no trânsito.

A prática de corromper o agente do estado é tão comum que geralmente o condutor nem espera pelo pedido, vai logo pondo umas notas no meio dos documentos que entrega a autoridade. Afinal é uma pequena corrupção que não se compara com as grandes negociatas flagradas pela justiça. Uma coisinha sem importância considerando-se o valor da propina.

A empresa estatal de petróleo resolveu participar de um movimento de combate a corrupção nacional. Bancou uma campanha publicitária em todo o país. Ocupou espaço nas mídias tradicionais e sociais com apelos para que todos se mobilizassem contra a corrupção.

Até mesmo nos postos de combustível implantados em todas as auto estradas foram espalhadas faixas com as mensagens da campanha de combate á corrupção. Isso não incomodou os políticos suspeitos de acumularem propina às custas dos impostos pagos pela população.

Chama a atenção da campanha anti corrupção ser bancada por uma empresa e não pelo governo. De certa de forma é uma demonstração que o Estado não tem força suficiente para o combate de uma praga nacional, uma verdadeira endemia que se estende das camadas mais altas aos mais miseráveis.

O advento das mídias sociais puseram pilha na cidadania e graças a facilidade de filmar, gravar, compartilhar, muitas ações viralizaram e passaram de mão em mão. Aumentou a indignação daqueles que não compactuam com essas práticas e sabem que elas correm a cidadania e a democracia. Mas há uma esperança no ar. A denúncia dos policiais de trânsito corruptos foram mostradas na internet. Estavam bem na entrada da cidade de Bangalore, na Índia.

A petroleira Barhat assumiu o financiamento da campanha anti corrupção alertando o público em geral contra os males dessa prática. Em um país com mais de um bilhão e 300 milhões de habtirntes parece uma tarefa impossível e inglória. Mas a ética da cultura hindu está ao lado da cidadania. Os deuses não são corruptos e não perdoam os que a praticam. A raiz está na epopeia que conta o nascimento mítico da Índia, o Ramayana.

O herói Rama vence o combate contra o diabo graças ao apoio do irmão, dos aliados macacos. A fidelidade de sua esposa Cita é um exemplo dignidade e de respeito às tradições. Até mesmo o inimigo derrotado na batalha final, cai de pé, não usa subterfúgios nem golpes baixos para abater o herói. O exemplo do combate à corrupção da Índia pode servir de exemplo para outros países.

Mas será que a Petrobrás bancaria uma campanha como a sua sósia Barhat?

(*) – É editor chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma.