Matrimônio… ou Patrimônio?
* J. B. Oliveira
“Matrimônio é um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, cultural, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto como um contrato. Normalmente é marcado por um ato solene”.
A palavra matrimônio, do latim matrimonium, vem do substantivo mater, matris, que significa mãe. O sentido subjacente é que, por meio dessa união, a maternidade se manifesta, trazendo à vida novas vidas, na bênção dos filhos…
Entretanto, se como expressa a definição acima, matrimônio é um “vínculo estabelecido entre duas pessoas”, cuja “representação arquetípica é a coabitação”, uma vez desfeita esta, desfaz-se também o vínculo. A separação significa que resolveram pôr fim ao vínculo que unia o casal: desfeito o matrimônio, cada um vai cuidar de sua vida.
Em geral, procurar um novo matrimônio, um outro par com quem se consorciar. Simples assim… Só que não!
Alguns indivíduos – demasiado ignorantes para entender o elevado sentido e a essência do matrimônio – não admitem que aquela que tomaram por esposa, e a quem juraram amar e respeitar, é uma pessoa com pleno direito de exercer sua vontade e sua liberdade. E se sua vontade é a de não permanecer em uma união conjugal que não lhe convém ou não lhe agrada mais, tem a liberdade de rompê-la. Certo? Não!
Os “senhores imbecis de carteirinha” não aceitam isso. Confirmando sua ignorância, estas são suas frases mais recorrentes: “Ela é minha!” e, pior ainda: “Se não for minha, não será de mais ninguém”!
Sua mente obscurecida por sentimento de egoísmo, ódio e psicopatia, confunde matrimônio com…
“Patrimônio: bens, direitos e obrigações de valor econômico e pertencentes a uma pessoa ou empresa”.
A palavra patrimônio é um vocábulo híbrido – isto é, de duas fontes etimológicas distintas – tendo origem no termo latino pater, patris, cujo significado é pai, e no grego nomos, que contém o sentido de “recebido”. Reporta-se ao conjunto de bens e posses que pertenciam, na tradição romana, ao pater familias, isto é, ao chefe do aglomerado familiar, que podia dispor de tudo e de todos a seu bel prazer. Sua autoridade era indiscutível e soberana: todos lhe obedeciam.
Em nossos dias, os mais perfeitos e acabados idiotas sentem-se “donos absolutos” das pessoas à sua volta. De modo particular, a esposa ou companheira, que se incorporaria permanentemente ao seu patrimônio! Qualquer tentativa de deixá-lo, é punida com a morte, no que se denomina hoje “feminicídio”!
O mais grave é que essa conduta bestial tem crescido. Só na Grande São Paulo, de janeiro a outubro deste ano, 44 mulheres foram assassinadas por seus namorados, maridos ou companheiros! Isso no Estado pioneiro no combate a tal monstruosidade: temos 133 Delegacias de Defesa da Mulher!
Um dos casos mais dramáticos foi o que vitimou Sheron Chaves Monteiro. Seu companheiro, Alex Alexandre Ferreira, após atear fogo a seu corpo, trancou-a no barraco, ainda viva. O detalhe é que, em agosto, o irmão de Sheron a acompanhou à delegacia de polícia, para registrar queixa de lesão corporal e ameaça.
Entretanto, ela não havia feito exame no IML e acabaram não representando formalmente contra o agressor. Segundo a família, Sheron e Alex teriam reatado o relacionamento uma semana antes da morte dela! Ou seja, ela continuou literalmente “dormindo com o inimigo”.
É desalentador pensar que aquele que jurou “amar até à morte”, seja, ele próprio, o autor da morte!
*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.
É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.
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