PALAVRAS “DENOREX”: PARECEM … MAS NÃO SÃO!
Nos anos 1980, um bordão reinou nos veículos de comunicação e saltou da propaganda para as conversas comuns dos meios sociais nos bares, no trabalho e no ambiente familiar: “Denorex: parece remédio mas não é”! Cada vez que havia semelhança – mas não igualdade – entre duas coisas a ponto de confundi-las lá vinha a frase: “É Denorex: parece mas não é!”
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Mais recentemente, já em 2009, o deputado federal Moreira Mendes, de Rondônia, defendendo-se de certas acusações, disparou: “Lembra daquela propaganda que tinha (sic) do Denorex? Parece mas não é. Parece xampu, mas não é xampu. É o mesmo com o meu processo, parece mas não é.”
Entretanto, o nobre parlamentar incorreu em dois equívocos. O primeiro é que o verbo a ser empregado em sua frase deveria ser haver, assim: “Lembra daquela propaganda que havia do Denorex?…”.
Isso porque surge aí uma oração sem sujeito e sua construção se faz com o verbo haver e não com o ter, que exige sujeito expresso. Alguém poderá objetar: “Mas propaganda não é o sujeito dessa oração?” Não. O termo propaganda é objeto direto do verbo lembrar, da primeira oração… A bem da verdade, havia duas outras formas de compor a frase corretamente com o verbo ter: “Lembra daquela propaganda que tinha o Denorex?…” ou “Lembra daquela propaganda do Denorex?”…
A segunda tropeçada do deputado ocorre quando ele afirma: “Parece xampu, mas não é xampu.” Não, deputado, a propaganda dizia exatamente o contrário: “Parece remédio, mas não é”, porque Denorex era de fato um xampu que tinha cheiro de remédio! Desculpe, mas sua afirmação foi… Denorex!
E palavras Denorex, o que são? São aquelas que parecem ter certo significado, mas têm outro – totalmente diferente. O desconhecimento do termo, a confusão mental ou a distração, o “estar com a cabeça em outro lugar” podem levar uma pessoa a incorrer nesse erro.
Certa feita, no Clube 21 Irmãos Amigos, coube à associada que representava o Distrito Federal falar sobre Brasília. Ela apresentou um trabalho muito bem feito, com apoio de imagens por computador. A certa altura, descrevendo uma das ilustrações, disse: “um dos símbolos de Brasília são esses dois calangos”. Ora, calango é um réptil da mesma família da lagartixa! O que ela quis dizer foi candango, designação dada aos trabalhadores do início da construção da capital federal…
Estava ao lado de um amigo que, conversando com um estrangeiro, falava-lhe de nossa história e de nossos costumes. Referindo-se à cultura indígena, informou que as figuras principais das tribos brasileiras eram o chefe, chamado de cacique ou morubixaba e o feiticeiro, o paxá! É evidente que ele confundiu esse termo com pajé.
Em meu livro “Como Promover Eventos – Cerimonial e Protocolo na Prática”, cito a solenidade a que comparecei e na qual o mestre de cerimônias, com pompa e circunstância, convidou todos os presentes a “entonar o Hino Nacional”! É certo que o verbo entonar tem um nobre sentido: “Erguer altivamente, ostentar majestosamente”, segundo define Aurélio, mas o que ele pretendeu pedir foi para entoar o hino pátrio.
E lá nas primeiras edições desse primor de cultura, bom gosto e princípios educativos que se chama Big Brother Brasil, uma candidata – uma belíssima morena, ex-miss – foi desclassificada por ter ocultado sua condição de casada. Inconformada com essa decisão, Joseane saiu-se com esta lição de anatomia moral: “A virgindade está na mente e não no ímã!” Foi só então que passei a entender porque sexo atrai tanto. Afinal, nele estão presentes o imã e hímen!
<>Voltemos ao “Pudê” Legislativo. Guindado à presidência da Câmara dos Deputados, em uma eleição algo atípica, o então deputado federal por Pernambuco Severino Cavalcante proferiu, do alto da tribuna – dedo em riste – esta preciosidade: “A Câmara dos Deputados não vai ser apenas o supositório do Poder Executivo!”. Louvável a atitude de proclamar que, como um dos três poderes – “independentes e harmônicos” do Estado Democrático – o Legislativo não serviria apenas de depósito medidas do Poder Central, mas teria papel próprio e importante nas decisões do país. Isto é, não teria simplesmente o papel de repositório! Pois é, mas o que ele disse foi total e esdruxulamente diferente. É o caso de se perguntar: ao pronunciar isso, onde será que ele estava com a cabeça?
J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.
É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras.
[email protected] – www.jboliveira.com.br