Inimigos e Amigos
O que não são capazes os que querem o impossível ou intangível senão falar tudo que lhes convém para conseguirem o seu objetivo?
Quando alguma pessoa quer alguma coisa que está fora de seu alcance, pode se tornar um inimigo amigo. Passa-se por alguém confiável. Isso não lhe parece um cenário político? De que essa pessoa tem certo dom de passar um ar de credibilidade, que poderá prometer algo além de suas capacidades.
Isso pode ocorrer, como o já tradicional pedido de empréstimo: “prometo que irei lhe pagar”. Se for um devedor contumaz, poderá não cumprir. Ou, daquele que recebeu mais de vinte pontos na carteira de habilitação: “prometo que é a última vez que pratico essa contravenção”. Ou alguém que disse não ter participado de algum esquema de propina?
Com isso, chega-se ao ponto de banalizar a palavra, de não se ter vergonha em se comprometer com alguém e, sem mais nem menos, assumir que nada daquilo poderia ser afirmado. Não se trata de mudar de opinião, até porque só os tolos e medíocres insistem em ser convictos de seus erros. Esses são os tipos que mesmo se dedicando a aprender porque estão equivocados não conseguem se posicionar de maneira diferente.
Pois é, tenho lido e ouvido com alguma frequência a frase: que alguém prometeu algo que não cumpriu. Quando pergunto diretamente: já ocorreu de alguém se fazer passar por uma pessoa amiga e lhe trair a confiança? A resposta genérica e bem contextualizada é um sonoro: “creio que sim!” A afirmação a esse “creio” é porque pessoas acreditam que o outro pode ter cometido aquele ato sem querer ou involuntário ou por interesse maior. Há que se compreender essa intenção quando alguém se obriga a fazer algo para outra pessoa.
As coisas se complicam quando envolvem juras de amor, laços de amizade, relação de crenças ou política. Tenho notado que votos e juramentos estão sendo quebrados com relativa facilidade nesses tempos. Entendo que algumas pessoas não conseguem sustentar sua palavra de honra. Como, também, vejo nesse quadro de amizades que afloram com a política que podem ser temporárias, ao se comprometerem por amizades ou inimizades ao sabor do cumprimento de determinadas ações.
Um estrategista francês, Napoleão Bonaparte, dizia: “que a melhor maneira de manter a sua palavra é não dar”. Corresponderia ao estilo do não abra a boca se não tiver certeza de que possa cumprir. Acrescentaria que não fale se não tiver certeza.
E, em cenários turbulentos, sei que isso é ainda mais difícil. O que falo hoje pode me fazer ter um inimigo amanhã? Não importa, pois terei novos amigos que se valerão de minhas novas parcerias. Mas, e se esses amigos me traírem? Não importa, pois terei recuperado outros daqueles que foram meus amigos no passado. E se esses ficarem com um pé atrás com essa reaproximação? Não importa, pois sabemos que tudo pode mudar nos próximos dias.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).