Heródoto Barbeiro (*)
Os partidos políticos são capitaneados por poucos. É raro um debate no Congresso Nacional onde se discute planos de governo.
Geralmente os parlamentares são movidos por lobbyes poderosos e generosos para bancar as campanhas eleitorais. É comum nas cidades do interior do Brasil e nos bairros periféricos das grandes cidades, a figura do cabo eleitoral. Até o nome lembra a hierarquia regional onde o líder maior é chamado de coronel. Herança dos tempos antigos.
Os cabos eleitorais tem o maior interesse na reeleição do político local, ou alguém que ele indique, geralmente de sua família. Afinal defendem os seus empregos pagos com o dinheiro dos impostos. Eles se desdobram em conseguir votos e não poupam nem mesmo o trabalho de copiar o resultado das urnas para atestar se aqueles que prometeram apoiar o seu candidato cumpriram o que barganharam.
Churrasco, pequenos presentes, apresentações para hospitais públicos, furar uma fila para obter uma casa em algum bairro popular, entre outras coisas. Mas o que o eleitor gosta mesmo é receber algum dinheiro. E ele não falta. Dia de eleição é dia de festa e para isso é preciso ter caminhões que possam transportar o gado, ou melhor o eleitor até a seção eleitoral.
Não se sabe exatamente o que os partidos políticos defendem. Um deles é carimbado como defensor da oligarquia rural, os grandes proprietários de terras. A agricultura representa o principal item da pauta das exportações e garante os dólares na balança comercial. Outro se diz defensor dos trabalhadores urbanos, especialmente os operários.
Seus dirigentes se mantém no controle da burocracia partidária e sindical. Estão na oposição de qualquer governo que não diga claramente que defende um aumento do salário mínimo e ações públicas que proponham uma divisão mais igualitária da renda e a diminuição da distância entre os ricos e os pobres. Não sabem como isso pode ser efetivado, mas é uma narrativa popular.
Um dos presidentes mais populares da história da república é oriundo desse núcleo político. Resta o partido que se auto denomina defensor do liberalismo, do livre mercado, e não assume abertamente que é um aglomerado de direita. Financia campanhas pela família, contra o aborto, apoio a religião e combate a qualquer manifestação que se assemelhe ao credo comunista.
Há um festival de criação de partidos. Além dos 14 registrados, há pelo menos mais 83 na lista de espera para a legalização. Todavia são poucos os partidos de alcance realmente nacional. Durante um bom tempo da história da república eles eram organizações regionais. O poder executivo está de olho nas manifestações populares contra o governo.
Grandes passeatas de estudantes eclodem nas princioais cidades lideradas pelos estudantes. O poder discricionário é ativado mais uma vez. A linha dura do grupo que tomou o poder em 1964 não quer permitir a posse dos eleitos se vierem da oposição. O presidente Castelo Branco, acossado pela ala radical, para evitar sua destituição da presidência da república acata a imposição de mais um ato institucional. Desta vez ele extingue todos os partidos políticos e cria apenas dois ARENA e MDB.
Mais uma vez o critério de estar na situação ou oposição nada tem a ver com programas partidários. Os políticos aderem a um ou outro de acordo com as suas conveniências locais. O bipartidarismo é criado de cima para baixo. Nada tem a ver com o sistema americano ou britânico.
A diferença é que desta vez o poder real está nas mãos do grupo civil e militar que derrubou o presidente constitucional João Goulart.
(*) – É jornalista do Portal R7, Record News e Nova Brasil fm (www.herodoto.com.br).