Heródoto Barbeiro (*)
O avanço militar surpreende o alto comando russo.
Por ignorância ou arrogância não avaliam corretamente qual potencial o inimigo tem. Nem a audácia de invadir o território russo. A história moderna mostra que os conflitos em que os russos se envolveram se desenrolaram fora das fronteiras nacionais. O armamento militar e a grande extensão territorial da Rússia são fatores que os estrategistas militares inimigos sempre avaliaram corretamente. Uma coisa é atravessar a fronteira, outra é conquistar Moscou, a sede do governo. Todos se lembram do exemplo da invasão napoleônica e como o imperador da França foi derrotado.
Além de soldados, aviões, tanques e outros aparatos militares, a Rússia conta também com o General Inverno, que se envolve na guerra, mesmo sem ser oficialmente convidado. Ele é uma “carta na manga” do poderio russo e que, pelo menos uma vez ao ano, entra no jogo para ganhar. Neve e frio são suas armas, seguidas pela dificuldade de comunicação terrestre e escassez de alimentos.
Não se pode imaginar que um país invada o território russo impunemente. A diplomacia russa sempre se destacou pela costura de tratados com outras potências europeias, o que lhe dá segurança militar. Nesses tratados, atacar um país-membro é o mesmo que atacar o conjunto dos signatários. O exemplo mais conhecido é a adesão da Rússia à Tríplice Entente, ao lado da França e da Inglaterra, para enfrentar a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Essas alianças diplomáticas e militares caracterizam a primeira década do século 20. Já, vinte anos depois, a Rússia se vê isolada, sem aliados ocidentais e à mercê de um inimigo que bate às suas portas.
A saída é a diplomacia, concessão de vantagens ao adversário e divisão do território conquistado caso haja uma guerra. O mundo se lembra da divisão da Polônia entre nazistas e comunistas em 1939. Tratados de não agressão são letras mortas quando os interesses geopolíticos se movimentam, e o que foi acordado ontem, não vale mais hoje. E, quando a diplomacia falha, vem a guerra.
Mais de 3 milhões e 600 mil soldados, apoiados por tanques, aviação e abastecimento atravessam a fronteira russa e partem em busca de uma rápida vitória contra o inimigo. É uma reprodução da blitzkrieg realizada com grande êxito na tomada da Polônia. Esta está dividida entre os nazistas de Adolf Hitler e os comunistas de Joseph Stálin. Entre eles, guardada nos arquivos alemães e russos, dorme cópia do tratado de não agressão entre as duas potências militares.
Desde 1939, russos e alemães têm se preparado para uma guerra, haja vista que as duas doutrinas políticas são antagônicas. Uma na extrema direita, outra na extrema esquerda. Uma capitalista, outra comunista. Os chanceleres Ribbentrop e Molotov sabem que o que prometeram não é para ser cumprido. É uma paz apenas para dar tempo de os nazistas derrotarem os ingleses e os russos acumularem material de guerra e transferir a indústria bélica para os confins do país. A resistência britânica e a necessidade de acesso a minérios estratégicos é o gatilho para a invasão-surpresa de 1941.
Está aberta uma segunda frente bélica na Europa e os militares alemães temem que se repita o erro da Primeira Guerra Mundial, quando lutaram em duas frentes e foram derrotados. Os pontões nazistas miram a cidade de Leningrado, ou Petrogrado, antiga capital do Império Czarista, Moscou a nova capital soviética e Stalingrado, um centro industrial de material bélico. Seis meses depois, o Japão, aliado da Alemanha e Itália, também de surpresa, ataca Pearl Harbour e põe a maior potência industrial na Segunda Guerra Mundial.
Segundo as autoridades soviéticas, morreram 28 milhões de russos até 1945, ano do final da guerra.
(*) – É âncora do Jornal Nova Brasil e colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Mídia Training e Budismo www.herodoto.com.br.