Heródoto Barbeiro (*)
Não há pretendente à presidência que também não seja torcedor de futebol.
Não pode abrir mão do apoio da torcida nas urnas, ainda que sua paixão pelo time esteja sempre ligada ás campanhas eleitorais. É mais uma estratégia populista de manter o poder que conquistou e não abre mão de jeito nenhum. Leva por todo o mandato e uma vez ou outra aparece no estádio de futebol.
É um símbolo da perenidade de poucos que se apossam do poder público, privatizam o Estado e usam e abusam das benesses pagas com o dinheiro do contribuinte. Não se ouve alguém falar em renunciar à presidência do senado, da câmara, das diretorias das estatais, ou um cargo de confiança no gabinete de uma das excelências da república.
Suponha que aquele cidadão de ficha suja, condenado em todas as instâncias, mas em liberdade, viesse com a cara lavada pedir o seu voto. O que você diria? Que tal a expressão popular “nem a pau Juvenal !!”. Os símbolos nacionais também não escapam da apropriação por grupos, movimentos ou partidos políticos. E o presidente sabe disso.
Bandeiras estaduais dão a impressão de divisão do país em vários pedaços e que o poder não está nas mãos do chefe da república. Por isso a melhor solução é mostrar as cores nacionais à exaustão, mandar pendurar bandeiras onde for possível, cantar o hino nacional em todas as solenidades oficiais ou não.
As cores do pais estão até mesmo na faixa presidencial. Em época de nacionalismo intenso no mundo, os movimentos ditos patrióticos são organizados e orquestrados para desfiles e apresentações onde se exalta a figura do presidente. Ele é o dono do poder, o homem que representa mudança, melhoria nas condições de vida da população e é mostrado sempre sorridente. Sua foto está pendurada em todas as salas dos órgãos públicos como um Grande Irmão, observando o que se diz a respeito dele e do seu governo.
O presidente, ou ditador, como é chamado pela oposição, toma uma medida drástica. Proíbe bandeiras estaduais. Isso lembra separação, divisão do Brasil em vários países. Não reforça a ideia do nacionalismo e da unidade nacional. Com o poder absoluto conseguido em um golpe de estado, seu desejo é uma ordem.
Getúlio Vargas monopoliza os símbolos nacionais, incentiva o culto à personalidade e persegue os que são contra. Vez por outra vai a estádios para comemorar datas como o dia do trabalho onde diz se encontrar com os operários e humildes. A ditadura não tem tempo para acabar, afinal, diz Vargas, se não fosse ele os comunistas teriam tomado o poder e implantado um regime soviético no Brasil.
Tudo está sobre controle e nada escapa dos órgãos de repressão. Só a bandeira paulista escapou do rapa. Não devia, afinal São Paulo organizou um levante militar contra ele e foi derrotado. Onde estaria ela? No estádio de futebol. Mesmo durante o estado novo a bandeira paulista não sai do brasão do Corinthians apesar de toda a vigilância do departamento de imprensa e propaganda da ditadura.
Certa vez perguntei ao grande jornalista Nirlando Beirão, com quem trabalhei vários anos no Jornal da Record News, um dos meus mestres : “Sabendo disso você trocaria de time? Ele usou o jargão popular: Nem a pau Juvenal !”.
(*) – É editor chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma (www.herodoto.com.br)