Monarquia em perigo?

em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Heródoto Barbeiro (*)

Há quem diga que os dias da monarquia estão contados. Principalmente entre os universitários há uma forte reação à continuidade dessa forma de governo.

Os professores ensinam aos alunos que a humanidade evoluiu muito e não aceita mais que um monarca tenha um papel importante na condução dos destinos do país. Monarquia está associada aos velhos impérios da antiguidade, que remontam aos períodos da construção da civilização humana. Foram adequados no passado, mas estão totalmente fora da nova realidade em que vive o mundo.

Os europeus são responsáveis pela sobrevivência das monarquias, sustentadas desde a Idade Média e, por isso, simbolizam a opressão, o reacionarismo e um período em que a população é excluída da participação política. Há inúmeros exemplos de guerras que foram conduzidas por reis e seus vassalos com a destruição das cidades e das colheitas, lançando o povo na miséria e na construção da civilização humana.

Foram adequados no passado, mas estão totalmente fora da nova realidade em que vive o mundo. Os europeus são responsáveis pela sobrevivência das monarquias, sustentadas desde a Idade Média e, por isso, simbolizam a opressão, o reacionarismo e um período em que a população é excluída da participação política. Há inúmeros exemplos de guerras que foram conduzidas por reis e seus vassalos com a destruição das cidades e das colheitas, lançando o povo na miséria e na fome.

Homens são obrigados a servir no exército real ou prestar serviços sem remuneração na abertura de estradas, construção de diques e certas violências. A história registra essa forma de governo como primitiva e, por isso, precisa ser mudada. A alternativa é a substituição pela república, com uma constituição que regule os três poderes e garanta a rotatividade dos governantes. Os jornais não se cansam de abrir espaços para o debate sobre a conveniência da instalação de um regime republicano.

Há diversas opiniões sobre a forma de se substituir a monarquia, que vai de uma revolução pura e simples à implantação gradativa da república. Os modelos não faltam. Nas escolas se debate a forma com que as 13 Colônias enfrentaram a opressão britânica e declararam a independência já sob a forma da República dos Estados Unidos da América.

Em outras palavras, toda a teoria política cultivada nos séculos 17 e 18 deixou de ser uma proposta utópica, irrealizável, e se consolidou em um país democrático, como pensaram os filósofos franceses e ingleses. O modelo norte-americano serve de exemplo para todos, especialmente para as colônias europeias espalhadas pelo mundo, principalmente nas Américas. Não se cogita uma separação política com a troca de uma família real por outra.

Há setores da sociedade que almejam chegar ao poder e influir nos rumos econômicos e políticos da nação. Os livros de História contam o nascimento da democracia em Atenas, onde não havia monarca, e o modelo republicano romano, instalado com a derrubada do último rei de Roma. A literatura está ao lado da monarquia. Ao longo do tempo, cria-se uma concepção de que tudo tem a ver com rei, rainha, nobreza, príncipes e princesas.

Os títulos reais são ostentados com orgulho e são símbolos de que alguns são mais importantes do que outros. A família real se julga perpétua no poder e não avalia que um movimento republicano possa mudar a ordem das coisas. Nem mesmo quando chegam à capital do país notícias que o republicanismo também é debatido em outras regiões. Proprietários de terras aderem ao movimento e sustentam a criação de partidos republicanos. Com seu poder econômico, financiam campanhas políticas e vários são eleitos deputados.

Nos quartéis, a juventude militar é ensinada que não há porque se financiar uma casta de privilegiados, herdeiros dos reis europeus. O Brasil tem a única monarquia duradoura na América. A do México durou muito pouco e foi substituída pela república. A boa imagem do imperador D. Pedro II não é suficiente para estancar os que sonham que um regime republicano, com forte concentração do poder nas mãos do Poder Executivo, seja melhor para o país.

Há um claro debate ideológico a respeito, mostram os jornais, especialmente os do Rio de Janeiro. Os pretextos populares vão da velhice do monarca à ameaça de que o governo vá parar nas mãos do marido de princesa herdeira, Isabel, o conde francês D´Eu. Os oligarcas imperiais, ainda amparados na mão de obra escrava, sustentam a monarquia, enquanto seus privilégios são mantidos. Contudo, abandonam a monarquia com o fim da escravidão.

Está aberta a possibilidade de os militares se juntarem a uma das facções republicanas e darem um basta a uma forma de governo iniciada com a proclamação da independência. A monarquia chega ao fim, decadente, anacrônica e ultrapassada. O Brasil republicano nasce com a deposição do imperador, seu exílio e a constituição de um governo provisório capitaneado pelo marechal Deodoro da Fonseca.

Todavia, os saudosistas do monarquismo sobrevivem até os dias atuais.

(*) – É professor, jornalista, comentarista da Record News, Portal R7 e Nova Brasil FM, além de autor de vários livros de sucesso (www.herodoto.com.br).