Heródoto Barbeiro (*)
Cogita-se na capital do país que o atual presidente da República quer ser novamente reeleito.
Se isso se concretizar seria o seu quarto mandato à frente do Poder Executivo. Dezesseis anos de governo. Uma performance, pelo menos em termos de longevidade, só comparada à de ditadores europeus ou latino-americanos.
Há quem diga que é a instauração do autoritarismo no país, contradizendo os redatores da Constituição nacional, que previram apenas uma reeleição. No máximo, oito anos. O exemplo vem sendo seguido por todos os presidentes da República até agora. Mas onde está escrito que ele não pode, mais uma vez, se candidatar?
O povo, em última análise, escolhe se quer ou não que ele continue no cargo. A imprensa de oposição divulga que o país corre o risco de se tornar uma “república das bananas”, como tantas outras no continente americano. Força, prestígio, apoio do seu partido ele tem. Nada pode obstar sua continuação no poder. A conjuntura mundial favorece o seu projeto de poder.
Guerras e ameaças de todo o tipo podem levar o eleitor a optar pela estabilidade e não pela incerteza. A oposição alerta o país que a democracia está em risco. A crise econômica é muito mais profunda do que se imaginava. São os alicerces do capitalismo que estão abalados. A economia mundial está centralizada nas mãos de uma elite internacional que ganha e acumula cada vez mais dinheiro.
Com essa concentração de riquezas nas mãos de poucos, sobra pouco para o resto da população mundial que vive na beirada da fome ou já mergulhada dentro dela. O plano econômico defendido pelo presidente, há pelo menos 12 anos, tenta arrancar o país da crise. Os programas e planos governamentais se voltam para a distribuição de renda e investimento pesado na agenda social, com o Estado gerando postos de trabalho e distribuindo apoio na forma de planos sociais.
O discurso presidencial não tem boa recepção entre os conservadores que são avessos à intervenção do Estado na economia, ainda mais empenhado na geração de emprego e renda. Resta recorrer ao Supremo Tribunal Federal e alegar que o chefe do Executivo está passando dos limites constitucionais que orientam a nação.
Carisma e liderança para tentar mais um mandato ele tem. Sua popularidade vem das campanhas eleitorais anteriores. Defende bravamente pleno emprego, seguro desemprego e apoio aos idosos do país. Duas vitórias no estado mais populoso da federação o habilitam a disputar a eleição presidencial pelo partido democrata. Franklyn Delano Roosevelt é eleito presidente dos Estados Unidos na esteira da crise da bolsa de Nova York e do furacão que varreu o país de um ponto a outro.
No discurso da convenção, que o escolheu para disputar a presidência em 1932, dizia-se que sua campanha “É um chamado às armas”. O programa governamental democrata, conhecido com New Deal, sofre forte oposição conservadora, mas obtém o apoio dos pequenos agricultores e operários. Isso o habilita para a reeleição em 1936. O final do segundo mandato termina em pleno ataque das forças nazistas à Inglaterra em 1940.
O mundo caminha para uma nova guerra mundial. Rompe a tradição iniciada pelo presidente George Washington de exercer apenas dois mandatos. Não há lei que impeça um terceiro. Apenas a tradição. Diante da ameaça dos países do Eixo, é eleito pela terceira vez presidente dos Estados Unidos. O ataque japonês à Pearl Harbour, o avanço soviético sobre a Europa e a ameaça nuclear fazem dele, pela quarta vez, candidato à presidência em 1944.
Impensável pelos pais fundadores da democracia americana. Reeleito, morre antes de terminar a Segunda Guerra Mundial. Viveu parte da vida permanentemente paralisado da cintura para baixo, diagnosticado com poliomielite, mas se descobriu depois que sofria de uma neuropatia autoimune.
(*) – É âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina” (www.herodoto.com.br).