Falo Tudo
Na verdade, só falo se for pego, antes vamos deixar que a sorte cuide dos detalhes com a divina providência.
E, nada se comenta, de que um em cada três pode ser acusado. Nada se sabe até que se descubra, investigue, prove, processe, julgue e faça-se cumprir. Mais uma coisa é certa e óbvia: temos alguns que fazem parte de um grupo de assalto aos cofres públicos.
As linhas que demarcam o que é corrupção têm sido bem evidentes. Os números do dinheiro recuperado é uma clara indicação do que existe. Só que há controvérsias e especulações nesses números. Dizem alguns chutadores calculistas ou especuladores de tendências que a corrupção pode ser responsável por desviar ou consumir trezentos bilhões, quem sabe duzentos, dos cofres públicos? A previsão, dependendo das cifras, pode ser pessimista ou otimista.
Tudo é relativo na hora de se estabelecer uma comissão de desvio. Um por cento pode ser pouco, como dez por cento pode ser bom, dependendo do valor. Em dez mil reais, um por cento, será cem reais. Se dez por cento, mil reais. De um contrato de cem milhões, um por cento parece bom. Os olhos brilham quanto mais ouro está à sua frente, não é?
Então, cifras e valores, ficam para serem debatidos ou acertados pelo pessoal do segundo ou terceiro escalão. O que lemos, na hora das revelações, é que o principal beneficiário nunca sabe de nada. Nunca tratou daquele assunto e que ‘tudo foi feito dentro da Lei’. Até que é pego ou grampeado. Aí o discurso muda, fala tudo o que sabe. Passa a contar quem eram os colegas que faziam parte do esquema, que dia o dinheiro foi entregue no endereço no centro da cidade. Todos os detalhes que, evidentemente, estavam funcionando até que o esquema fosse desmantelado.
Há uma regra, no estilo mafioso dessas associações, entre conhecidos com pouca intimidade: todos sabem que recebem, mas não comentam entre si. O silêncio, imposto às condições e os números que são divididos, é o cerne da perpetuação dessa amizade envolvendo as esferas privadas e públicas.
Quando esse vínculo é ameaçado ou descoberto deixam-se de lado as formalidades e o distanciamento se torna necessário.
Mudam-se os discursos e as poses e sorrisos. Passa-se a ouvir: – ‘nunca estive com essa pessoa’ ou ‘recebemos e registramos dentro do que a Lei determina’. Em parte, pode ser verdade, de nunca ter estado com a pessoa, já que o beneficiário final não põe a mão na mala. Alguém faz isso por ele. Dessa maneira, esquemas se aperfeiçoam e medidas de pedir ou receber se sofisticam. Nota-se que receber em cheque nem pensar. Além do comércio, essa modalidade caiu em descrédito. Assim como a maleta tipo 007, cheinha de dólares, muito usada nos anos setenta, não é recomendada.
Quando as dificuldades se mostram intransponíveis, o melhor é mudar as leis que atrapalham. Fica mais cômodo não ter que falar tudo.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).