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Entre pedras e bambus

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 04 de julho de 2019

Entre pedras e bambus

Importante era ter o nome na placa de inauguração. O nome do governante ficaria ali exposto para que toda a humanidade soubesse de sua proeza.

Nenhum monumento poderia ser inaugurado sem o nome esculpido na pedra, para certificação que nunca seria modificado. Uma homenagem para sempre. Mas inventaram o cinzel. A mesma ferramenta que escrevia em baixo-relevo o nome da excelência, era capaz de apaga-lo. Bastavam apenas algumas marteladas. E o que é pior um novo nome era esculpido em cima. Só mesmo os arqueólogos conseguiriam descobrir a fraude.

Essa prática tem pelo menos uns 4 mil anos. No império egípcio vários faraós não tiveram o pudor de mandar apagar no nome dos seus antecessores, em monumentos que glorificavam os deuses e perpetuariam o seu nome para a eternidade.

Afinal, acreditava a religião local, um dia todos seriam julgados no tribunal de Osíris e poderiam voltar a viver indefinidamente. Nada como voltar do além e conviver com o seu nome inscrito nos templos. Não faltavam nem acólitos, nem escribas para moldar o nome do último mandatário na pedra.

Outros optaram por outro caminho. Detratores de toda ordem não podiam ser liberados para impedir que o governante edificasse a sua obra e tivesse o seu nome para sempre glorificado. Livros publicados por subversivos insistiam de contar a história do pais sem dar a devida importância para o imperador da China. O filho do Céu. Alguém que tinha o poder de ser o intermediário entre o sagrado e o profano. Como consertar isso?

Qin Shi Huang não hesitou mandou queimar todos os livros publicados até então. Uma ordem imperial foi divulgada avisando a todos que deveriam, no prazo de 30 dia, entregar os livros para os mandatários locais que deveriam queimá-los. Qualquer cidadão flagrado com as tabuinhas de bambu, os livros da época, seriam severamente castigado e mandado para trabalhos forçados em região distante.

Assim o imperador acreditava que o seu nome seria glorificado para sempre no panteão dos imperadores do Império do Meio. Quanto mais a repressão apertava, mais tabuinhas eram escondidas. Alguns textos foram decorados e publicados assim que o tirano morreu.

A equipe era tão importante que ninguém se lembrava o nome do governante. Afinal o pais vinha de plano econômico em plano econômico e não se conseguia dominar a inflação. Esta era responsável pela perda do poder aquisitivo da população, e mesmo a indexação dos salários era capaz de minorar a situação. Os preços nos supermercados era remarcados mais de uma vez por dia. Só a elite tinha instrumentos para não perder renda.

Professores, intelectuais formados no Brasil e no exterior elaboraram mais um plano econômico. Desta vez deu certo. Criou a moeda mais longeva da economia brasileira e a inflação ficou em níveis civilizados. Nos últimos anos têm ficado abaixo do centro da meta de 4,5 % ao ano. Estes dados mostram a importância que o Plano Real teve. Foi responsável pela eleição do ministro da Fazenda, duas vezes, à presidência da república.

Pouco ou nenhum destaque é dado ao presidente que governava quando o Plano Real se desenvolveu. Talvez porque era um político mineiro interiorano, sua popularidade maior eram em Juiz de Fora e ganhou as manchetes da mídia social quando compareceu, ao lado de uma modelo, aos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. Nem grandes obras públicas, nem tabuinhas de bambu.

Itamar Franco sumiu no meio de tantos famosos que povoaram a política brasileira no seu tempo.

(*) – É editor-chefe e âncora do Jornal da Record News em multiplataforma.