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Elas têm mais memória do que eles?

em Colunistas, J. B. Oliveira
segunda-feira, 11 de março de 2019

Elas têm mais memória do que eles?

 

 

                                                                                                                                                           * J. B. Oliveira

 

 

Certa feita, esqueci do aniversário de casamento! Era o 13º (agora, em fevereiro, foi o 48º…). Eu estava em um período de muita agitação profissional, como diretor de uma distribuidora de veículos, vice-presidente de um sindicato nacional patronal e ainda ministrava cursos, palestras e treinamento em empresas e escolas…

Na manhã seguinte, ela me mostrou um belo anel e disse: “Veja o presente que eu ‘me dei’ de aniversário de casamento”! E completou, ferinamente: “Você não se lembrou, não é mesmo?”

Premido por uma situação tão desagradável, vexatória e constrangedora, achei que a única saída seria apelar para o humor (como, aliás, sempre faço…). Com a cara mais deslavada do mundo (afinal, eu havia acabado de fazer a barba e lavar o rosto…), disse: “Lembrei, sim, claro, mas eu não guardo rancor, está tudo bem!” Ela riu bastante da piada e também não mostrou rancor.

É bem verdade que, depois, vieram as desculpas formais, acompanhadas de flores e um jantar à luz de velas…

Entretanto, “a pergunta que não quer calar” é esta: a mulher tem mesmo melhor memória do que o homem? Afinal, ela NUNCA esquece aniversários de nascimento, casamento, formatura, batizado, datas especiais, eventos e – principalmente – onde está cada coisa em casa! Às vezes ele berra lá do quarto: “minhas meias marrons não estão aqui!” e ela retruca: “estão sim senhor! Olhe na segunda gaveta, no lado esquerdo…”! Só então ele olha, e lá estão as benditas meias…

Então, vamos lá: no que tange ao aspecto físico, ambos têm as mesmas condições e posição da memória: lá está ela na região chamada hipocampo, localizado no sistema límbico do cérebro. A diferença, portanto – que indubitavelmente existe – não se refere a eventual privilégio de um sobre o outro, como acontece com o cérebro, por exemplo. Nesse setor, as neurociências já comprovaram que o cérebro masculino é aproximadamente 10% Como já escrevemos nesta coluna, a cientista dinamarquesa Bente Pakkenberg demonstrou que, além disso, os homens têm cerca de quatro bilhões de neurônios a mais do que as mulheres. Isso ocorre na região do neocórtex, que é uma fina cobertura que recobre a zona externa do cérebro e apresenta uma grande quantidade de sulcos divididos em seis camadas. É indispensável dizer que a mesma neurociência provou, por intermédio do pesquisador americano Roger Gorski, que essa quantidade nada significa e não impede a mulher de fazer melhor uso dos seus 19 bilhões de neurônios do que o homem com seus 23 bi!

A esta altura, temos que apelar para um outro americano, Mark Gungor, escritor e palestrante de sucesso que, ao falar sobre as diferenças fundamentais entre os cérebros masculino e feminino, em sua mais célebre e conhecida palestra, que ele denomina “The tale of two brains”, diz que a mulher se recorda de todas as coisas e detalhes porque, a tudo o que lhe ocorre, ela associa um elemento chamado “emoção”. Ele afirma que quando quem quer que seja agrega emoção a qualquer coisa que lhe aconteça, isso fica gravado em sua memória! Ele prossegue indagando: “E o homem, não tem emoção? E responde em seguida: “Tem. Mas ele não liga!”

Se observarmos bem nosso comportamento no dia a dia, perceberemos que, na prática, memória é uma questão de atenção. Quando prestamos atenção de verdade – e com interesse – em relação a um fato, acontecimento, história, data ou pessoa, a possibilidade de conservarmos essa lembrança em nossa mente é muito grande.

Também o exercício ajuda a desenvolver a memória. Declamar poesias, por exemplo, estimula a mente a encaixar as palavras nos escaninhos mentais que estão dispostos lá no neocórtex.

Em um programa de treinamento que ministrei para gerentes e supervisores do Banco do Brasil, um participante elogiou minha memória, destacando que eu narrava histórias nas quais citava números, nomes, datas e outros detalhes sem recorrer a anotações. Agradecendo, respondi que, de fato, eu me orgulho de duas virtudes que possuo: a primeira, sem dúvida, é minha memória, que ajuda muito meu trabalho. A segunda… a segunda… a segunda… eu não lembro!

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