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Transparência com as novas tecnologias nas eleições

em Denise Debiasi
segunda-feira, 01 de julho de 2024

O uso das novas tecnologias tem colocado em risco a democracia. Recentemente, nas primárias dos Estados Unidos, divulgou-se uma conversa telefônica dos democratas pedindo que os apoiadores de Joe Biden comparecessem às urnas somente em novembro, já que a primária de janeiro não era importante. Um candidato à presidência poupando votos? Foi uma atitude de deixar muitas dúvidas, não? E esse não foi o único acontecimento inusitado. Na Indonésia, o ex-ditador Suharto apareceu em um vídeo para uma campanha eleitoral. O detalhe é que ele teria que ressuscitar para fazer isso! Suharto morreu em 2008.

O aumento das fake news nas últimas eleições no Brasil e no mundo tem gerado muitas preocupações. Contudo, o desafio agora é outro. A desinformação está mais sofisticada. Já é possível alterar as vozes e as imagens das pessoas, impactando diretamente na tomada de decisão da população.

Quando os veículos de informação começaram a divulgar que os vídeos e os áudios eram manipulados, um grupo de pessoas afirmava ter identificado a falsidade da informação (reviver pessoas foi um pouco demais). Enquanto isso, outro grupo defendia que a informação era verdadeira, por mais absurda que fosse. Diante desse cenário, como podemos minimizar os efeitos negativos da desinformação?

Em nível internacional, a preocupação é para garantir a transparência e a integridade das informações nos debates públicos. Estamos correndo contra o tempo para minimizar os impactos negativos do uso da Inteligência Artificial (IA) nas eleições. Um decreto para normatizar a nova tecnologia foi assinado, em 2023, por Biden, nos Estados Unidos. Uma legislação que regula a IA foi aprovada pelo Parlamento Europeu em março. Empresas de tecnologia também estão se movimentando. Vamos combinar que ninguém gostaria de ter problemas judiciais ou éticos pelo envolvimento de sua tecnologia na disseminação de informações falsas. Na 60ª Conferência de Segurança de Munique, 20 empresas assumiram o compromisso de evitar que o uso de IA desestabilize as democracias.

Em resumo, as grandes empresas estão apostando em aumentar a transparência das informações. Para atingir esse objetivo, seria necessário criar padrões para identificar que áudios, vídeos ou imagens foram alterados. Minha dúvida é se essas padronizações serão suficientes para identificar facilmente os conteúdos falsos ou se estamos entrando na era em que consumir informações será uma versão adulta do jogo “Onde está Wally?”, em que, em um domingo à noite, vamos buscar pistas para entender se a informação era verídica ou não.

Estamos próximos das Eleições Municipais de 2024. E o Brasil também tem apostado na transparência para minimizar os impactos das novas tecnologias. Por aqui, quem usar IA deverá identificar que o conteúdo foi alterado, terá restrições para o uso de ChatBot e avatares e será proibido de simular interlocução com candidatos ou pessoas reais. Em caso de não cumprimento das regras, as punições serão altas: perda do mandado e cassação do registro eleitoral.

Estou começando a duvidar da IA. Não seria possível treiná-la para evitar a disseminação de notícias falsas? Como é possível ver, há muito trabalho a ser feito para regulamentar as novas tecnologias e seus impactos. A popularização massiva e acelerada das novas tecnologias impõe um desafio às estruturas jurídicas: agir rapidamente e regulamentá-la; e implementar programas para a população brasileira ser instruída de como identificar a veracidade dos fatos também se faz necessário.

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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.