Estudos da área de governança corporativa indicam que a presença de mulheres em conselhos de administração e na liderança de empresas contribui não apenas para melhores resultados financeiros, mas também para a inovação, maior conformidade com os programas de compliance, para a inclusão e diversidade. Todos esses fatores somados, por sua vez, contribuem para uma atuação mais representativa, ética, e íntegra das empresas para com todas as partes interessadas e impactadas pelo negócio (stakeholders).
Apesar de ainda não vermos mulheres ocupando cargos de liderança na proporção em que estamos presentes na sociedade, felizmente e em grande parte, graças a elas, temas relevantes para a justiça e equidade social vem sendo tratados com mais atenção dentro das instituições recentemente.
Isso nos leva a crer que a nossa sociedade vem compreendendo melhor a questão da pluralidade e sua importância para o desenvolvimento de negócios e de políticas públicas que, entre outros objetivos, estimulem a inclusão social e a recuperação econômica. E do que trata exatamente a questão da pluralidade?
No âmbito da iniciativa privada, uma estratégia de negócios plural reconhece a importância da diversidade dentro e fora da empresa para que ela possa identificar oportunidades de mercado e ofertar produtos e serviços que atendam as demandas específicas de diferentes públicos. Para isso, a empresa precisa cultivar mentes abertas, que vivenciam e entendem os pontos de vista diversos de segmentos específicos da sociedade e de minorias, seja em relação a gênero, etnia, idade, condição social, localização geográfica, cultura, religião e assim por diante.
Apenas como exemplo, dados da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que fornece pesquisas sobre a inclusão social da população LGBTI no Brasil, revelam que essas pessoas sentem falta de se reconhecerem nos serviços e produtos das empresas, seja através de ofertas pouco aderentes aos seus anseios de consumo, seja no teor da sua propaganda, etc.
Nesse caso, existem desafios e oportunidades para as empresas capacitarem seus colaboradores a olharem para o mercado com uma visão mais inclusiva, a fim de identificar esses gaps e inovar em alguns nichos, muitas vezes, ainda sem soluções de negócio, nem muita concorrência.
Já no âmbito público, do governo e das instituições que elaboram políticas, o Brasil ainda vivencia atrasos. No Poder Legislativo, por exemplo, a representatividade das mulheres ainda está muito aquém do peso que elas têm no eleitorado brasileiro, que corresponde a mais de 52 %. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, das 513 cadeiras, apenas 77 são ocupadas por deputadas, ou cerca de 15%. No Senado somente 12 mulheres foram eleitas para as 81 vagas, o que equivale a uma participação feminina de apenas 14%.
Um outro exemplo da falta de pluralidade institucional no Brasil é o do senso demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) por não ter incluído perguntas sobre sexualidade e identidade de gênero, apesar dos pedidos de entidades representativas deste público ao longo dos últimos anos.
A ausência dessas estatísticas impede as instituições de trabalharem em ações destinadas à solução de problemas coletivos, tornando as iniciativas públicas menos assertivas sem o conhecimento dessas características populacionais. Da mesma forma, faltam dados para as empresas que pretendem lançar novos produtos e serviços com base na leitura das necessidades destes grupos que acabam sofrendo discriminação por invisibilidade nas estatísticas, permanecendo ignorados por determinadas políticas públicas e pela grande maioria das empresas.
E como mudar essa realidade?
Do ponto de vista da governança em empresas, área que represento e atuo, acredito que seja preciso ainda mais esforços pela quebra de paradigmas, promovendo, interna e externamente, ações de valorização das diferenças (seja de gênero ou de qualquer outra categoria). É preciso abrir processos seletivos com foco em diversidade e tornar a inclusão parte da cultura da organização, para que mais mulheres e profissionais com perspectivas distintas da grande maioria possam vir a atuar em cargos de liderança em igualdade de condições, reforçando a pluralidade, ética e integridade nas instituições e sociedade.
Denise Debiasi é Country Manager e Líder de Investigações Globais e Inteligência Estratégica da BRG Brasil, braço local da consultoria americana Berkeley Research Group (BRG), presente em 5 continentes e mundialmente reconhecido pelo expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativa, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte à litígios, entre outros serviços de importância primeira em mercados emergentes.
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