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Avaliação de desempenho a partir de crenças pessoais

em Denise Debiasi
segunda-feira, 09 de setembro de 2024

As Olimpíadas de Paris terminaram há quase um mês. Com o devido distanciamento temporal, já é possível fazer a avaliação de desempenho de maneira mais racional. Quem saiu vitorioso e quem saiu derrotado do evento do COI (Comitê Olímpico Internacional)? Quem surpreendeu positivamente e quem decepcionou?

Apesar do elemento objetivo da mensuração dos resultados, ainda assim temos um forte elemento subjetivo na análise. Você já parou para pensar sobre isso? Afinal, conquistar uma medalha de bronze pode ser motivo de orgulho para alguns e motivo de fracasso para outros. Alcançar a prata representa a felicidade pela concretização de antigos sonhos ou a lembrança amarga pela derrota na final olímpica. Mesmo uma medalha de ouro no peito gera sentimentos contraditórios. Pode parecer pouco para quem esperava colecionar várias medalhas douradas e bater recordes e pode ser o ápice na carreira esportiva.

É curioso como o ponto de vista influencia intimamente na percepção do desempenho. Esse debate surgiu em um churrasco com amigos durante as Olimpíadas. Na confraternização, um dos participantes começou a reclamar da mentalidade dos esportistas brasileiros. Para ele, o mal do nosso país é que os atletas nacionais se contentam em ganhar qualquer tipo de medalha (no caso, bronze e prata). E continuou: por outro lado, a ambição dos esportistas das grandes potências estava direcionada unicamente para o ouro. Qualquer resultado diferente é considerado fracasso para os gringos. Muita gente no churrasco não concordou com esse ponto de vista e a discussão aflorou.

Esse amigo estava convicto de sua opinião. Para ele, o Brasil jamais entraria no grupo das nações de elite das Olimpíadas enquanto atletas, mídia, torcedores, patrocinadores e governo se satisfizessem com “um punhado de medalhinhas de prata e bronze” – essa expressão é dele, não minha. Nesse momento, ele foi além e contestou até aqueles que voltavam felizes mesmo sem uma medalha. Usou como exemplo um atleta brasileiro (agora não sei de qual modalidade) que bateu seu recorde pessoal e estava satisfeito por ter ido à final das Olimpíadas. Na prova decisiva, alcançou a quarta ou quinta posição e comemorou efusivamente. “É um absurdo o cara ficar feliz na derrota”, concluiu meu amigo indiferente à dimensão do feito do conterrâneo.

Juro que fiquei refletindo sobre esse tema durante o churrasco e nos dias seguintes. Imagine o esforço do profissional ao longo de vários anos para chegar à posição de ser um dos melhores do planeta. Aí vem alguém de fora e acha pouco, dizendo que apenas o primeiro pode se sentir orgulhoso. Aposto que quem questiona os méritos alheios nunca chegou perto de entrar na lista dos melhores do mundo em sua área de atuação.

Os resultados profissionais e corporativos dependem do referencial. E o referencial está ligado quase sempre ao contexto e, principalmente, aos nossos valores. Nossas crenças e atitudes moldam nossos olhares para o sucesso e para o fracasso. Há quem comemore cada conquista e cada degrau superado com enorme felicidade e satisfação. E há quem se lamente o tempo inteiro por não ter chegado à posição em que não há mais ninguém à sua frente. Além disso, se não temos a humildade para reconhecer as façanhas dos outros, também não conseguiremos reconhecer os nossos êxitos.

Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.