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Da Vila Buarque de Paulo Bomfim só resta a Igreja da Consolação

em Colunistas, Geraldo Nunes
sexta-feira, 12 de julho de 2019
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Paulistano, nascido em 1926, o poeta Paulo Bomfim nos deixou recentemente

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Paulo Bofim, Príncipe dos Poetas Brasileiros. Foto: Blog do Castorp

Filho do médico Simeão dos Santos Bomfim e da artista plástica Maria de Lourdes Lébeis Bomfim, assistiu ainda criança os acontecimentos em torno da revolução de 1932. Seu pai seguiu com as frentes de luta para a formação dos hospitais de campanha voltados a atender os feridos de guerra, enquanto tios e primos seguiram adiante com o front.
Paulo Bomfim veio ao mundo para ser o grande artífice das palavras de louvor à sua terra natal, sendo por isso aclamado como “O Poeta da Cidade” e considerado o sucessor de Guilherme de Almeida na condição de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Quem o conheceu sabe que ele nunca ostentou sabedoria, preferindo atribuir a terceiros um saber maior sobre fatos históricos, pitorescos ou marcantes dos acontecimentos ligados a São Paulo.
Foram muitas as recordações de infância relatadas por Paulo Bomfim, quase todas acontecidas na Vila Buarque, cuja residência na Rua Rego Freitas 59, servia de centro cultural para a reunião de intelectuais em torno de suas tias Cecília e Magdalena Lébeis, que lá recebiam amigos como os poetas parnasianos Coelho Neto e Martins Fontes, além do próprio Guilherme de Almeida e do maestro Heitor Villa – Lobos. “Daquele bairro que vivenciei quando menino nada mais restou, a não ser a Igreja da Consolação, a única referência ainda viva daqueles tempos”.
Certa vez, em uma entrevista para a Rádio Eldorado, Paulo revelou que costumava ir ao cemitério da Consolação, deixando sempre uma rosa sobre o túmulo da marquesa de Santos. “Uma vez, vi uma preta velha ajoelhada rezando. Ela virou-se para mim e perguntou se eu era devoto da marquesa. Eu disse que sim e essa mulher então me contou que havia recebido um milagre porque pediu em oração à marquesa que intercedesse junto ao professor Pietro Maria Bardi, então diretor do MASP, para que ele autorizasse uma exposição das pinturas dela. Atendida, a mulher estava lá pagando a promessa”.
Paulo Bomfim conviveu com Anita Malfatti que desenhou seu rosto em 1946 para a capa do livro, ‘Antonio Triste’, seu primeiro livro de poesias com prefácio de Guilherme de Almeida. Outro grande nome da literatura que conheceu ainda menino, foi o poeta modernista Mário de Andrade.
Generoso e solícito com todos que o procuravam, Paulo tinha sempre uma palavra de elogio.
“Se for para criticar ele prefere ficar quieto” nos disse certa vez sua esposa Emy (Emma Gelfi Bomfim), com quem ficou casado durante 50 anos. Em 2016, ao completar 90 anos, Paulo foi homenageado com o livro “Porta Retratos”, organizado pela jornalista Di Bonetti, onde foi mostrado o acervo de fotografias dele com amigos e familiares, tendo como pano de fundo cenas urbanas da cidade de São Paulo. Pena que ele teve que partir. Se existissem mais pessoas com a sensibilidade de Paulo Bomfim, o mundo seria melhor. Ele dos deixou em 7 de julho último, aos 92 anos. Sua poesia ficará para sempre.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]).