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Antônio Conselheiro tem seu nome inscrito no Panteão dos Heróis da Pátria

em Colunistas, Geraldo Nunes
sexta-feira, 24 de maio de 2019
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Antônio Conselheiro, o líder religioso acusado de ser monarquista pelos republicanos e o suposto mentor de uma resistência às forças governamentais, denominada Guerra dos Canudos, entre 1896 e 1897, foi transformado em herói da pátria após aprovação no Congresso Nacional e sanção do presidente Jair Bolsonaro, do projeto da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE).

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Vista parcial de Canudos ao sul. Segundo o registro oficial do exército, foram contados 5200 casebres no arraial de Antônio Conselheiro, 1897. Foto: Flávio de Barros/Acervo Museu da República

O confronto de Canudos que se deu no interior da Bahia foi narrado em texto por Euclides da Cunha, contratado pelo jornal O Estado de S. Paulo para ser o correspondente de guerra daqueles acontecimentos. Depois, seu trabalho seria transformado no livro “Os Sertões”, publicado em 1902. Além de Antônio Conselheiro morreram no episódio cerca de 25 mil sertanejos da comunidade de Belo Monte, fundada pelo líder religioso, além de 15 mil soldados do exército brasileiro, entre feridos ou mortos.

Euclides viajou com a informação da existência de um grupo armado de enfrentamento às tropas federais formado por “bandidos sob a orientação de um fanático”. Ao chegar permaneceu retido alguns dias em Salvador até obter autorização para ingressar na área do conflito. De lá, escreve sua primeira reportagem detalhando o retorno dos soldados provenientes de Canudos aos quais descreve como “trôpegos e alquebrados”. No total foram 22 cartas e 55 telegramas enviados ao jornal para a série, “Diário de uma Expedição”.

Sua entrada no arraial de Belo Monte acontece em 10 de setembro de 1897 e a saída em 3 de outubro, dois dias antes do fim da guerra, por causa de permanentes acessos de febre. Nas cartas enviadas com intervalos maiores havia análises da situação e nos telegramas quase diários, Euclides passava informações pontuais sobre os acontecimentos. Militar reformado com treinamento para enfrentar dificuldades, o correspondente se depara no trajeto rumo ao sertão baiano, com inúmeros corpos humanos putrefatos pelo caminho. Pessoas que morriam vítimas da sede e do cansaço.

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A única foto conhecida de Antonio Conselheiro, místico rebelde e líder espiritual do arraial de Canudos (1893-1897), Bahia, Brasil. Foto tirada duas semanas após sua morte, pelo fotógrafo Flávio de Barros, a serviço do Exército.

Eram retirantes tentando fugir a pé da fome e da seca, debaixo de um sol dilacerante, sem nenhum meio de transporte ou assistência. Os habitantes do arraial liderado por Antônio Conselheiro, o guia religioso de milhares de pessoas, haviam rechaçado duas pequenas expedições do exército enviadas para combatê-los, entre outubro de 1896 e janeiro de 1897. O fato que fez a notícia se espalhar pelo País, entretanto, foi a derrota de uma terceira expedição, em março daquele ano.

Comandada pelo coronel Moreira César, conhecido como corta-cabeças, após sua atuação para combater anos antes, uma revolta no sul do País, chegou à Bahia com 1300 homens. Achando possível entrar em Canudos e resolver a situação com facilidade chegou a dizer. “Vamos almoçar lá!”, demonstrando otimismo e subestimando o adversário. Os sertanejos, por sua vez, esperaram a tropa se aproximar e a surpreenderam. Moreira César foi morto antes mesmo pôr os pés em Belo Monte.

Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nasceu em 13 de março de 1830, em Quixeramobim, então um pequeno povoado perdido em meio à caatinga do sertão do Ceará. Seus pais queriam que ele seguisse a carreira sacerdotal. Entrar para o clero naquela época, era uma das poucas possibilidades que os pobres tinham para ascender socialmente. Mas, com a morte de sua mãe, a meta de se tornar padre não se concretiza. Seu pai se casa novamente e a madrasta passa a maltratá-lo.

Aos 17 anos, Antônio decide se casar com uma prima, Brasilina Laurentina de Lima. Logo após o casamento, a encontra dentro de sua casa em traição conjugal com um sargento da polícia. Humilhado, para não ser vítima de comentários, desaparece do lugar onde morava e passa a peregrinar pelos sertões do nordeste. No ano de 1877, quando ocorre a Grande Seca, uma das mais calamitosas de toda a história, levas de flagelados famintos abandonam suas lavouras, passando a caminhar em grupos por todas as regiões nordestinas, a procura de ajuda ou de alguma graça divina.

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Reprodução/Internet

Os que encontravam Antônio Vicente, já transformado em pregador religioso, passavam a segui-lo fazendo dele seu conselheiro espiritual e uma espécie de santo. Anos depois, cansado de peregrinar, o líder decide se fixar à margem de um rio próximo à cidade de Canudos, fundando um arraial ao qual dá o nome de Belo Monte, por estar em um vale cercado de colinas. Todos que o seguiam passam a viver sob seus preceitos, inspirados na lei de Deus, sem aceitar a presença do estado ou de qualquer outro tipo de autoridade. E se municiam de armas para defender a comunidade, rechaçando assim todo tipo de interferência, partisse ela de fazendeiros, policiais ou mesmo do exército.

Entre os republicanos surge a informação que os sertanejos agiam contra a consolidação do novo regime e em defesa da extinta monarquia. No dia 5 de abril de 1897 tem início a quarta e última expedição militar contra Canudos e desta vez o cerco é implacável. Até mesmo os que se renderam terminaram mortos, inclusive mulheres e crianças. Eliminar o arraial de Belo Monte e seus habitantes se tornou questão de honra para o exército da época.

Euclides da Cunha foi até lá para fazer essa cobertura de guerra, mas ao deparar com a tragédia social existente escreveu após a série de reportagens, sua grande obra, hoje um clássico da literatura nacional no qual se destaca a frase: “O sertanejo é antes de tudo um forte”.

Não se sabe ao certo qual foi a real causa da morte de Antônio Conselheiro. Existem duas versões, uma delas diz respeito a ferimentos causados por uma granada e outra por ter sido ele vítima de uma forte “caminheira”, ou disenteria.

O corpo do Conselheiro foi sepultado no Santuário de Canudos, mas logo depois sua cabeça é cortada e levada para a Faculdade de Medicina de Salvador onde um médico legista, o Dr. Nina Rodrigues, se encarrega de fazer estudos pelo fato da ciência na época entender que a loucura, a demência e o fanatismo poderiam ser diagnosticados por traços do rosto ou do crânio. Um incêndio, porém, no prédio da antiga Faculdade de Medicina de Salvador, no ano de 1905, fez perder para sempre o crânio de Antônio Conselheiro e todos os estudos deixados a seu respeito.

Para a deputada Luizianne Lins, a justificativa do projeto transformando o Conselheiro em herói nacional, se deu pelo fato dele servir de exemplo para o enfrentamento de problemas relacionados às desigualdades sociais que ainda ocorrem em nossos dias. O Livro dos Heróis e Heroínas é um documento que preserva os nomes de figuras que marcaram a história do Brasil. O chamado Livro de Aço encontra-se no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Fontes: Agência Câmara, Infográficos Estadão – Euclides capítulo 1 – Wikipedia.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]).