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Antigo nacionalismo

em Colunistas, Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 05 de abril de 2018

Antigo nacionalismo

Os desfiles militares atraiam as atenções do mundo. Especialmente no primeiro de maio, dia em que em muitos países, se comemora o Dia do Trabalho.

Ao invés de operários, soldados. Ao invés de caminhões civis, uma série de tanques da última geração. O ápice do desfile era a apresentação dos mísseis intercontinentais, que podiam ser armados com ogivas nucleares, suficientes para destruir toda a vida no planeta muitas vezes. Nas muralhas do Kremlim os dirigentes da União Soviética, sorridentes com as conquistas tecnoloógicas e militares que a pátria do comunismo obteve desde a revolução de 1917.

Era uma aviso ás nações capitalistas, que não ousassem atacar ou derrubar os regimes que reinavam na Europa, Ásia e pipocavam no terceiro mundo. Tudo aquilo existia em nome de uma doutrina ideológica. O regime se sustentava com a difusão dela pelo mundo e o apoio dos partidos comunistas e movimentos guerrilheiros locais. Era a Guerra Fria e dela só haveria um único vencedor ou o comunismo ou o imperialismo.

O sistema se esgotou e o império soviético veio muro à baixo com a queda do muro de Berlim. O capitalismo, em suas diversas formas triunfou com o advento da globalização e os avanços tecnológicos.
Poucos países comunistas escaparam da derrocada. A China entrou em um processo de capitalismo de estado, associou-se ao capital internacional, tornou-se a maior credora dos títulos da divida americana e apareceu em todos os portos e aeroportos do mundo com suas mercadorias de baixo preço.

A Coréia do Norte se manteve imóvel nos quadros antigos do comunismo e uma dinastia de ditadores se impôs. Ao sul, a outra Coréia tornou-se uma potência capitalista e tecnológica e, á primeira vista, poderia ocorrer o mesmo que nas Alemanhas. A Oriental não suportou o crescimento e a atração da Ocidental e foi tragada por ela. O regime norte coreano para sobreviver e impedir a atração do sul desenvolveu uma ditadura rígida, de inspiração estalinista.
Impossibilitada de concorrer no campo econômico e tecnológico o governo de Piongyang militarizou o quanto pode o país. As comemorações se dão nas datas relativas a família do ditador atual, e os desfiles copiaram os da antiga Praça Vermelha. A salvação foi criar um inimigo externo e desenvolver misseis capazes de atingir primeiro Seul e Tóquio, depois os Estados Unidos. Os testes nucleares foram o aviso que não se metessem com o regime comunista capitaneado pelo terceiro herdeiro.

Com o fim da Guerra Fria e o encolhimento do comunismo a Rússia passou a procurar um espaço dentro do capitalismo para chamar de seu. Aos poucos se associou á regimes ante americanos como o da Venezuela, Cuba, e até o conglomerado econômico conhecido como BRICS. Não entrou na área de influência da China, mas se manteve firme no Oriente Médio.

Se os americanos podem, porque não os russos? O arcabouço ideológico do socialismo acabou, restou apoiar os regimes claramente ante ocidentais como a Síria. Petróleo e gás não faltam na Russia. É um exportador importante. Manter bases militares na região ainda é considerada uma forma de reafirmação do poder militar. Em suma sobrou pouco espaço para pirotecnias internacionais como no passado.

Restou recuperar o antigo nacionalismo, tão duramente combatido no período soviético, sempre identificado com o imperialismo. A burguesia russa é investidora nas bolsas de todo o mundo e as fronteiras estão abertas para a influência do capitalismo atual.

Pode se considerar que a primeira guerra mundial teve como motor o colonialismo, a segunda a ideologia e nada mais sobrou para os dias atuais. Ainda que o atual governo russo tenha se esforçado para ocupar um canto muito estreito nas mesas de decisões do futuro atual da humanidade.

(*) – É editor chefe e âncora do Jornal da Record News, emissora aberta de notícias.