A prolixidade castigada…
J. B. Oliveira
Prolixidade é um vício de linguagem que consiste em usar muitas palavras para traduzir uma só ideia. Se alguém fala por muito tempo, vale-se de muitas palavras, porém transmite muitas informações, instruções, ideias enfim, não está cometendo esse vício. Entretanto, se usa cinco palavras onde duas seriam suficientes, comete-o.
A palavra prolixidade tem sua origem no termo latino prolixus que, por sua vez, vem de pro- à frente, mais a base do verbo liquere, fluir, escorrer. Nesse sentido, tem por sinônimo o vocábulo verborragia, palavra formada por hibridismo – isto é, por termos de línguas diferentes – : verbum, latim, com o sentido de palavra e rhégnumi, grego, que significa o mesmo que liquere: escorrer, fluir. Há outro sinônimo, ainda mais esquisito e até cacofônico (de kakós, ruim, mau e phonós, som. Daí vem o nome de outro vício de linguagem, a cacofonia, que ocorre quando do final de uma palavra e o início de outra, surge uma terceira de som ridículo ou torpe: por cada; a touca dela; sempre tinha…). É a palavra logorreia, formada toda em grego, pela soma de logos, palavra, mais o mesmo verbo, visto acima, rhégnumi.
A causa da prolixidade muitas vezes é a tautologia, palavra que deriva do grego tautologos, repetição do que já foi dito.
No último dia 15 de agosto, a doutora Elisângela Smolareck, juíza da 5ª Vara do Trabalho de Brasília, Tribunal Regional do Trabalho, 10ª Região, fez algo que muitos gostariam de fazer: “deu castigo” a um advogado do Banco do Brasil por sua prolixidade! Na audiência que então presidia, a magistrada se indignou com a defesa por ele apresentada: “O objeto da inicial não comporta uma defesa de 113 páginas, o que constitui desrespeito ao Poder Judiciário, tão abarrotado de processos (especialmente contra a reclamada), em que o juiz precisa ater-se aos elementos realmente necessários ao deslinde da lide”
Para a juíza, “a arte de escrever importa também em se saber condensar o que é realmente importante e útil ao leitor” que, no caso, seriam o advogado ex-adverso, – da parte contrária – e o julgador.
Em razão disso, a magistrada concedeu ao advogado do Banco “o prazo de 5 dias para reapresentação da defesa em no máximo 30 páginas, sob pena de incorrer em multa por ato atentatório da dignidade da Justiça, fixada em R$ 30 mil, sujeita a execução imediata”.
O caso lembra outro episódio jurídico. O do advogado de defesa que, vangloriando-se, disse ao juiz da causa: “fiz a defesa de meu cliente em 75 laudas, demonstrando sua inocência”. O magistrado, impassível, respondeu: “se o senhor precisou de 75 laudas para defender seu cliente, eu já desconfio de sua inocência”!
O excesso de palavras – escritas ou faladas – é um erro praticado por muitas pessoas. Até por desconhecerem algumas recomendações. Uma, bem antiga, está expressa neste provérbio-advertência dos latinos: “Esto brevis et placebis”: sê breve e agradarás. A verdade é que depois de algum tempo ouvindo alguém falar compulsivamente ou lendo texto excessivamente longo, entopem-se nossos ouvidos ou cansam-se nossos olhos e, partir daí, ouvidos ou olhos nada mais transmitem ao cérebro. Os neurotransmissores se fatigaram ou enfastiaram…
Outra recomendação vem do próprio Mestre Jesus: “… não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por seu muito falar serão atendidos”. Isso deixa claro que nem mesmo Deus tem paciência para suportar os logorreicos…
A propósito, Atos dos Apóstolos conta, no capítulo 20, a partir do versículo 7, que o apóstolo São Paulo proferia um longo discurso, indo noite adentro. Então, um jovem chamado Êutico, que estava junto a uma janela no terceiro andar, dormiu e despencou ao solo, sendo tido por morto. Paulo, entretanto, chegou-se junto dele e disse “Não vos perturbeis, porque sua alma ainda está nele”, e o levantou vivo…
Nos cursos de Comunicação e Oratória que tenho ministrado para grupos ou empresas, também faço alguns lembretes, como este, de Guy de Maupassant: “Seja o que for que se pretenda dizer, há apenas uma palavra para expressá-lo; apenas um verbo para animá-lo e apenas um adjetivo qualificá-lo”. Isso significa que o conhecimento da língua, o domínio do vocabulário e a capacidade de aplicar a palavra certa no lugar certo geram a mais extraordinária qualidade de qualquer comunicação: a concisão, em que se diz APENAS o que deve ser dito. Não havendo esse conhecimento, o recurso é usar muitas palavras na tentativa de transmitir alguma coisa, criando aquilo que se chama circunlóquio!
Também gosto de lembrar estes dois:
– Quando a boca é maior do que a cara, é sinal de que não sobrou espaço para o cérebro!
– Excesso de palavras sugere, sempre, escassez de ideias!
*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.
É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.
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