O desafio para designers e criadores é, justamente, encontrar o território da diferenciação com essência
Taise Kodama (*)
Com o final do ano estamos ansiosos para resetar o que passou e prever o que virá. O mercado fica em polvorosa com a chegada das esperadas tendências: da WGSN, o Pinterest Predicts, a Cor do Ano da Pantone, entre outros.
Todo ano é assim, mas o que tem mudado e pode nos dar um indício de uma tendência mais consistente, além de indicadores autoritários de padrões para design a serem seguidos como por muitos anos o universo da moda, por exemplo, tem apontado?
Vou pegar o caso da Cor do Ano e dos últimos rebrandings de 2023 para exemplificar um pouco do que tenho percebido como uma tendência que, se bem elaborada, pode nos dar uma luz para enxergarmos nossos próprios caminhos no design e buscar diferenciação e relevância.
Se tem um Top 1 das tendências atribuídas às necessidades que o digital traz, uma delas é o minimalismo. O algoz da criatividade no design para muitos. Mas olhando um pouco além do design, a tendência arquitetônica industrial, por exemplo, reflete mais impessoalidade, praticidade e um ser humano mais encaixado num território do “atual” – não à toa a biofilia (uso de plantas nos ambientes) tem colado direto nessa tendência para dar essa “humanizada” na relação.
Num mundo onde pets e plantas têm aquecido nossos corações e movimentado o mercado de consumo, fica evidente a nossa busca por resgates emocionais. O minimalismo que nos soluciona o favicon (pequeno ícone ou coleção de ícones associados a um site, página da web ou aplicativo da web), o ícone do app (ainda que casas e espaços corporativos não tenham essa necessidade) nos fez, inclusive, questionar o quanto as expressões e linguagens assumem um papel tão mais forte que a própria identidade.
Então, mais do que jogar pedra na “Geni do Minimalismo”, cujo uso e reprodução exaustivos também questiono, prefiro de uma forma otimista perceber o crescente valor dado às linguagens visuais e verbais nos processos de branding e rebranding. E a tecnologia nos ajuda muito nisso, em identificar padrões, buscar dados e conseguir traduzi-los além da caixinha da identidade.
Em 2023 tivemos os polêmicos rebrandings da Nokia (que traz identidade e linguagem disruptivos), Johnson & Johnson, Glassdoor (cujo minimalismo amplamente foi questionado por parecer apenas simplista e ter jogado fora todo legado das empresas junto com a água do banho) e, em dezembro, fomos surpreendidos com o rebranding de Itaú (uma das marcas mais icônicas do design brasileiro).
Neste último, o minimalismo não foi 100% rejeitado (rendeu até interação sarcástica e bem-humorada do banco Inter) pois traz um elemento de linguagem fortíssimo – a cor laranja – finalmente para identidade, o que gera identificação, proximidade, entendimento de que o que é percebido pode ser incorporado (ainda que acabe com o PPT de várias palestras de design com exemplo de linguagem tão forte quanto identidade).
Uma vez que o assunto é cor, vamos falar da Cor do Ano 2024, a Peach Fuzz, divulgada recentemente pela Pantone. Segundo Leatrice Eiseman, diretora executiva da Pantone Color Institute, “buscando um tom que refletisse nosso desejo inato por proximidade e conexão, escolhemos uma cor radiante que expressa calorosamente a elegância e a modernidade. Uma cor que ressoa com gentileza compassiva oferecendo um abraço, faz a conexão sem esforço entre o que é jovial com o que é atemporal”.
Quando observamos a explicação da escolha temos claramente um elemento contextual que se destaca. Ao escolher essa cor que denota calor, proximidade, conexão, fica bem claro que o motivador da escolha desses atributos vem de um olhar para as necessidades humanas mais desejadas do momento.
Num mundo cada vez mais tecnológico, rápido e produtivo, buscar aconchego faz todo sentido uma vez que a Cor do Ano, mais do que uma queridinha dos designers e arquitetos é também uma trend para todo uso imaginado na vida de todas as pessoas que tenham um board de desejos no Pinterest, no Instagram ou em qualquer plataforma.
O que mudou aqui? Qual a tendência que vem crescendo com isso? O acesso à informação, a horizontalidade, a rapidez com que ela chega a todas as camadas. Uma tendência forte que vejo nos últimos anos com as redes sociais e tecnologias afins é o quanto a referência demora menos tempo para chegar nas massas. Isso é bárbaro por um lado – quem aí não viu um mercadinho de bairro que agora tem fachada com madeira ripada, painel preto com escrita à mão com giz e uma certa identidade padronizada?-, pois amplia o acesso e o contato com o tal “design”, mas por outro nos leva rapidamente à padronização.
Nosso desafio como designers e criadores é, justamente, encontrar esse território da diferenciação com essência, não sendo um seguidor cego das tendências, mas investigador além delas. E, por mais que falemos de tecnologia, o grande diferencial é o quanto ela nos ajuda em termos de facilitar a pesquisa (Chat GPT, Kroma), escrita (Clarice.ai), imagem (Mid Journey, Adobe Firefly), apresentações (Tome App, Gamma), etc.
Esses são apenas alguns exemplos de IA’s que podem ajudar ao longo do processo e o primeiro passo é fazer essa curadoria. Para nós, seres curiosos e hiper focados em fazer descobertas, é fundamental, para vencer a arrebentação de encontrar IAs para chamar de nossas, principalmente encontrar os subsídios investigativos de cenário competitivo, tendências de comportamento, iniciativas em outros segmentos, contexto mundial e local desse esforço de superação do nosso repertório.
Desta forma, poderemos nadar nas águas do mar azul, encontrando diferenciação para identidades, expressões de linguagem e experiências verdadeiras para as marcas em 2024. Então, a tendência que leva a muitos lugares é ser curioso, se aprofundar e conseguir expressar, embarcar o aprendizado entendendo que precisamos conhecer as tendências para talvez não as seguir, mas encontrar nosso caminho…
(*) Head de Design & Digital da consultoria de marca e experiência Gad.