Carlos Gallani (*)
A indústria no Brasil está sofrendo com a falta de matérias-primas em diversos setores.
O problema afeta a quantidade e a qualidade da produção em diferentes segmentos, como o automotivo, a construção civil, roupas, peças e maquinários. A escassez de insumos já é responsável por reajustes de preços no mercado global, atinge toda a cadeia industrial e o consumidor. Falta aço, resina, entre outros produtos indispensáveis no dia a dia das empresas.
A escassez gera o aumento de preços e a inflação: o consumidor já sente no bolso o impacto das restrições. O problema começou com a pandemia da covid-19 e abala as cadeias de suprimentos no mundo todo. Aqui no Brasil, o óleo, o arroz e a carne bovina são alguns dos alimentos que ficaram bem mais caros.
O congestionamento logístico e o encarecimento da energia também impactam nos custos de produção. As importações e exportações são assoladas por motivos variados, como a redução de contêineres. As instabilidades podem ser sentidas de forma global. Na China, por exemplo, já há o racionamento de energia elétrica nas indústrias.
No setor automotivo, também é possível sentir as consequências da crise sanitária, mas há quem aproveitou o momento para revisitar as estratégias e ganhar espaço competitivo na produção de fábrica, como a Bosch de Curitiba. A empresa não apenas minimizou os danos, mas também aumentou a produtividade, mesmo enfrentando dificuldades logísticas em função do aumento de custos dos fornecedores internacionais.
A fábrica investiu em conectividade e seguiu a tendência da indústria 4.0 ao investir em inteligência artificial, que otimiza os negócios ao informar, em tempo real, possíveis problemas na cadeia de produção. O faturamento do grupo Bosch mundial tem uma previsão de crescimento de 3% até o final de 2021, comparado ao mesmo período de 2019, sendo que as divisões automotivas ainda não recuperaram os níveis pré-pandemia, impactadas pela falta de insumos, associado a uma transformação da mobilidade que ganhou velocidade nesse período.
Investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação é a solução para manter a competitividade no setor automobilístico. A escassez mundial de semicondutores impacta diretamente no preço dos carros, caminhões, máquinas agrícolas, outros veículos e componentes eletrônicos. Também é necessário pensar na mobilidade urbana, com foco na sustentabilidade e na redução de CO2, cujas emissões devem ser zeradas até 2050 na Europa e Estados Unidos, e até 2060 na China.
Todos esses fatores exigem que haja uma expansão tecnológica nas empresas para que se cumpram essas metas. A crise dos semicondutores também está impulsionando investimentos em capacidade interna, para mitigar problemas e futuros gargalos na produção. Uma estratégia de impacto a médio e longo prazo.
Ainda não é possível falar em pós-pandemia, pois vivemos sob restrições impostas por ela, mas é preciso que nos adaptemos às novas formas de gestão.
É necessário o cuidado ininterrupto para manter as operações em alto nível, envolvendo todos os colaboradores e criando um ambiente empreendedor, com autonomia, confiança e responsabilidade. Assim nos mantemos como protagonistas do nosso futuro, deixando de ser parte do problema e nos apresentando como parte da solução no enfrentamento de instabilidades do mercado, que certamente irão nos desafiar ao longo de 2022.
(*) – É conselheiro da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná) e diretor técnico da Bosch em Curitiba.