Marco Antônio Barbosa (*)
Como os nossos estados ou cidades se preparam, hoje, para evitar, impedir e se precaver da violência?
A segurança é uma das principais demandas da população e está estampada nas campanhas eleitorais. Mas o que é feito, de fato?
Segundo dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os gastos do governo com segurança pública no Brasil totalizaram R$ 91,2 bilhões em 2018, o equivalente a 1,34% do PIB ou R$ 409,66 por brasileiro. Em relação ao ano anterior, o país aumentou as despesas com a área em 3,9%.
O porquê o investimento cresce, mas a sociedade continua com a sensação de insegurança? Não é por falta de alternativas.
O mercado de empresas de segurança prevê um crescimento de 10% até o fim de 2019, segundo a Associação das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese).
Cerca de 95% das empresas que atuam no Brasil lançaram novas soluções, sendo algumas com tecnologia ponta utilizada no combate ao terrorismo fora do país. Mas quantas delas vemos usadas no dia a dia das nossas cidades para evitar ações criminosas?
A Torre Eiffel, por exemplo, possui um sistema de controle de acesso e segurança com alta tecnologia e é um monumento do governo. Já cidade de Cannes, também na França, possui pilares retráteis por toda a sua extensão, protegendo locais públicos de invasão de carros não autorizados. O que estes dois pontos tem em comum e que poderiam servir de exemplo para o Brasil: são públicos e o investimento foi feito pelo poder público.
Embora o gasto com segurança no Brasil cresça a cada ano, andamos no caminho inverso: oneramos nossos cofres com tentativas de soluções para remediar. Armas não são a única forma de segurança. Um exemplo claro de como a verba é mal investida foi o assalto ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, no mês passado.
Os criminosos entraram na pista, roubaram uma carga em dinheiro que iria entrar em um avião e fugiram. E não é a primeira vez que isto acontece. Não havia barreiras para impedir o acesso a pista, e tampouco câmeras de identificação. Quando fugiram, a polícia foi atrás, seguindo e deixando um rastro de ações para remediativas.
Assim agimos nas favelas também. Não impedimos a droga de chegar lá, não evitamos as facções criminosas de atuar no país inteiro, mas subimos atirando e colocando as vidas de inocentes em risco. O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também mostra que os gastos com inteligência reportados pelos estados brasileiros, os principais responsáveis pela entrada de recursos na segurança pública, foram na ordem de 0,6%.
Temos as tecnologias, temos o dinheiro, mas não existe inteligência ou estratégia. Pode dar certo em uma ação, mas a tendência, em longo prazo, é sempre estarmos atrás do crime, que se atualiza e se expande a cada dia. No português claro, usamos armas de fogo, mas não pensamos em como usá-las.
Remediamos o problema, mas não evitamos. Tampamos o vazamento com uma fita, mas não o consertamos. Em pouco tempo devemos nos afogar.
(*) – Mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios, é especialista em segurança e diretor da CAME do Brasil.