Enio Klein (*)
Sobre o que falar a respeito da pandemia da COVID-19 para agregar algum valor a vocês?
Muitos dizem que o melhor é reconhecer a gravidade da crise e seguir as orientações médicas. Por ora, isso é o que está ao nosso alcance. É questão de saúde. Isso é um fato. Mas a correlação entre a crise que vivemos e os outros aspectos de nossa vida é inevitável. Contudo, ao contrário de outras situações, onde crises levam a oportunidades, essa, relacionada com vida e morte, causa medo e pessimismo.
Na medida em que a crise avança – e isso é inexorável – o pânico e a depressão serão os próximos passos. O mundo mudou de repente. E a gente precisa se acostumar com isso e seguir em frente. A casa não caiu, e a gente não pode deixar que ela caia. Ao mesmo tempo que os profissionais de saúde trabalham para combater o vírus, não deixar as pessoas adoecerem ou cuidar das que já estão contaminadas, nós, que trabalhamos em outras áreas, temos a obrigação de manter essa casa em pé.
De nada adiantará todo o esforço para tratar as pessoas e mantê-las vivas se a casa cair sobre elas. A metáfora da casa significa não só tratar da doença e dos doentes, mas manter a todos em condições de viver. Para isso, a economia precisa girar ou então o cenário ficará pior do que está. Otimismo e vontade de levar em frente é exaltar a necessidade de continuar vivendo. É preciso respeito e atenção com a situação, mas temos que evitar a paralisia e o imobilismo.
Quem trabalha com consultoria e tecnologia, como eu, tem um papel importante nesse novo mundo. Como cidadãos, cumprir as determinações das autoridades de saúde, e como profissionais ajudar com nossa experiência, conhecimento e ferramentas tecnológicas, manter a roda em movimento. Como fazer isso? Basta vermos onde nossas atividades podem colaborar e coloca-las à disposição das empresas para que elas não parem.
Se trabalhar em casa é a solução, vamos ensinar e disponibilizar ferramentas para que se possa trabalhar em casa da melhor forma. Se a logística é caminho crítico, vamos colocar as plataformas de tecnologia à disposição das empresas e da população. São exemplos entre tantos outros. Mas temos que aceitar faremos isso ganhando o mínimo e investindo no futuro.
Mas existem meios termos. É só olharmos os negócios sob uma outra perspectiva: sobreviver para manter as paredes e as vigas que sustentam nossa economia. Só assim continuaremos a ter casas para morar agora e quando a crise passar. Mas para isso temos muitas coisas para rever como cidadãos, profissionais, executivos ou empreendedores. E que seja rápido. Não temos tempo e temos que ser cirúrgicos indo direto aos pontos críticos.
Assim, entre oportunidades e oportunismos, faces da mesma moeda, é necessário que cada um continue a fazer o seu papel da melhor forma possível e exercitar a tolerância para entender que não dá para fazer as coisas como poderíamos em outras circunstâncias e nem ganhar tanto quanto merecemos.
(*) – É CEO da Doxa Advisers, professor de Pós-Graduação na Business School SP, especialista em Transformação Digital, em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos.