Bruno Maia (*)
Nada será como era antes.
Essa simples constatação, tão subestimada anteriormente, ganhou um novo significado no debate sobre o trabalho durante e após a pandemia, e está levando à busca da reinvenção do papel de profissionais, empresas e seus clientes nesse novo normal.
Para quem está acostumado ao modelo tradicional de trabalho, a Covid-19 introduziu uma brutal disrupção na rotina, até então calcada nos diversos aspectos da vida “lá fora”, bem como mudanças radicais no expediente, que agora acontece dentro de nossas casas. Durante três semanas, notei o impacto da mudança em mim mesmo e nos outros.
Dias de trabalho sem fim ou pausa, entremeados pelo ruído da avalanche de notícias e dicas de autodesenvolvimento na quarentena, temas sob um guarda-chuva que projeta a sombra da incerteza sobre o futuro. É uma situação que coloca nossas melhores capacidades humanas em xeque.
Tendo reformulado minha própria forma de trabalhar para responder às novas imperativas trazidas pela crise, meu modelo atual considera estes impactos e seus desdobramentos em como nossos clientes operam. A primeira conclusão é: o trabalho estruturado e a abordagem de fail fast nunca foram tão adequados para projetos de tecnologia e inovação.
No atual cenário, é preciso trabalhar com o que se tem: praticar, falhar e consertar rápido.
A busca pela perfeição na primeira entrega, muitas vezes infrutífera e razão da falha de tantos bons projetos, sai de cena. Entra em cena o bom, o possível, o que possibilita a permanência no jogo infinito e permite a flexibilidade necessária para navegar a instabilidade. A interação entre pessoas também mudou e esse é outro elemento crucial de como parcerias estão sendo reinventadas pós-coronavírus.
Nossos clientes são pessoas que sofrem os mesmos problemas e pressões trazidas por esta situação sem precedentes. Portanto, é essencial ter isso em mente quando trabalhamos não só durante a crise, mas quando pensamos no futuro destas relações. No pós-pandemia, muitas empresas que experimentaram a operação remota e as eficiências que essa abordagem pode trazer não olharão para trás. Por outro lado, o trabalho remoto vai continuar a invadir os limites entre o tempo pessoal e profissional.
As pessoas sofrerão cada vez mais com overload de informações e encontros serão raros. Isso se refletirá na interação entre empresas e seus parceiros de tecnologia. O processo de conseguir um minuto de pausa de atenção do cliente, que sempre foi desafiador para fornecedores de soluções, ganha nuances adicionais no novo normal. Considerando todos os fatores, barreiras e mudanças, o trabalho precisa ser o mais informativo e realista possível.
Para isso, aumenta a barra do estudo e da análise prévia. Não vale usar modelos vistos na indústria anteriormente, do one size fits all, onde projetos anteriores são utilizados para mostrar como uma oferta pode apoiar um cliente. Falaremos da questão a ser endereçada, mas o debate sobre a solução a ser usada ficará em segundo plano, ou muitas vezes, até invisível.
Foco no pragmatismo e sustentabilidade no longo prazo serão fundamentais para as parcerias no novo normal. Em uma realidade de caixas de email lotadas e pessoas metralhadas com informação, o objetivo deve ser gerar menos barulho e trazer menos problemas.
Ser relevante é a única forma de conquistar espaço, mas com a música que clientes precisam ouvir agora: a das soluções
(*) – É diretor de Inovação do SAS para América Latina.