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Ranço ideológico. Até quando?

em Artigos
quarta-feira, 22 de março de 2017

Fernando César Nunes Saltão (*)

As notícias sobre a Operação “Carne Fraca” merecem uma profunda reflexão sobre a produção de alimentos no Brasil.

Temos uma cadeia produtiva eficiente. Conseguimos produzir uma quantidade fantástica de alimentos, com qualidade e ética. Em 2017, serão quase 30 milhões de toneladas de proteínas animais, 37 bilhões de litros de leite e 215 milhões de toneladas de grãos. Respeitamos o meio ambiente e as relações de trabalho. Não podemos esquecer que produzimos grãos em pouco mais de 60 milhões de hectares e são 170 milhões de hectares de pastagens.

Dados publicados recentemente comprovam a preservação de aproximadamente 62% do território nacional. No campo trabalhista, lidamos com uma legislação ultrapassada e inadequada, o que muitas vezes nos deixa à mercê de sermos incluídos em listas “sujas” de trabalho irregular, sem nenhuma razão técnica. Mesmo assim, é preciso dizer com orgulho que o campo gera 1/3 dos empregos do país, além de 23% do Produto Interno Bruto. E mais: cerca de 40% das nossas exportações saem do setor rural. Geramos riqueza, empregos e impostos.

Se há desvios de conduta, esses devem ser banidos. A corrupção é endêmica no Brasil e deve ser punida, como qualquer outro crime. Sobre punições, o Brasil precisa de uma revisão de conceitos. Basicamente punições devem ser aplicadas, sem dó nem piedade. A “lei de Gerson” tem que acabar! Em outros países, as coisas funcionam justamente porque punições são aplicadas. Simples assim.

Voltando à Operação “Carne Fraca”, me impressiona o despreparo e a falta de conhecimento de parte da mídia brasileira. Há erros grosseiros nas divulgações. É falta de conhecimento, sensacionalismo ou irresponsabilidade?
Um dos papeis da imprensa é informar fatos e alertar a sociedade sobre os acontecimentos. Porém, com imparcialidade. Esse é o conceito. O que estamos vendo é a exacerbação de um certo “ranço” que há contra o setor produtivo. A raiz é profunda.

A mídia é, sem dúvida, a entidade que mais exerce influência sobre as pessoas. E as pessoas gostam de notícias negativas. Isso, por sua vez, gera a famosa teoria: “Sangue vende.” Eis a razão para aproveitar uma notícia negativa na essência e dar mais uma bordoada em quem, na visão de alguns, representa o cerne do conservadorismo no Brasil.

O objetivo de impactar a população urbana foi alcançado. Basta vermos os comentários e memes postados nas redes sociais. Não se trata, apenas, de bradar contra a comunicação exagerada de quem não conhece a produção. O agro também tem sua culpa. Nos comunicamos muito mal com a sociedade. Não contamos direito a nossa história. Com isso, deixamos um enorme espaço para que outros a contem por nós.

Com o viés que lhes convier. O fato é que falamos para nós mesmos. E, com isso, cometemos um grande pecado. Não comunicar às pessoas sobre como são produzidos os alimentos que elas necessitam todos os dias é muito grave. Não temos desculpas. Somos fortes, somos essenciais para geração de empregos, de riqueza, de exportações, de comida na mesa das pessoas.

Essa é a nossa verdadeira história. Devemos contá-la.

(*) – É CEO da Associação Nacional da Pecuária Intensiva – ASSOCON