J.A. Puppio (*)
Todos nós em algum momento da vida já formulamos ou ouvimos essa pergunta. Acostumados com o velho jargão de que o Brasil é o país do futuro, praticamente nos acostumamos em sempre esperar por algo que nunca vem.
Para responder essa pergunta devemos sempre pensar quais são os Fundamentos Econômicos que impedem o crescimento? Por exemplo, estatísticas demonstram que existem 9 MPs para cada lei originada no Congresso. Temos mais de 70 tipos de tributos, taxas, impostos e contribuições. Aproximadamente 41% do PIB é constituído de tributos e desses 41%, 75% da arrecadação é do governo federal.
A realidade empresarial brasileira é composta por um inferno burocrático, outro inferno trabalhista e uma infra-estrutura medíocre. Vivemos anos de mercado fechado e temos um mercado de capitais limitado. De outro lado, temos as taxas de juros mais altas do mundo (ou quase isso), temos falta de garantias contratuais, lentidão judiciária e um cenário político marcado e combalido pela corrupção.
A nossa formação bruta de capital fixo é ridícula quando comparada ao potencial do País. Investimos pouco em educação e infra-estrutura e o nosso câmbio até recentemente estava pouco valorizado. E, pior, a empresa brasileira não tem apoio governamental. De acordo com o economista inglês Jim O’Neill que criou o termo BRIC, acrônimo formado pelas iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, o Brasil poderia estar entre os quatro países que poderiam liderar o crescimento global no século 21.
A China correspondeu e hoje é a segunda economia do mundo. Porque? O governo investiu na indústria, disponibilizando na década de 80, US$ 800 bilhões para indústria e pesquisadores, repetindo o feito na década de 90. Isso ajudou o crescimento do País. A Índia também vai bem. Brasil e Rússia começaram bem, mas logo passaram a desapontar. Para O’Neill, o motivo é: os dois países se acomodaram com o crescimento fácil da década passada impelido pela demanda por commodities. Quando os preços baixaram, os problemas tornaram-se evidentes.
Com o Brasil, O’Neill mantém o otimismo. “O país ainda pode crescer 5% nesta década”, diz, mas precisa investir na indústria, porque até agora só tem andado para trás. Para isso, é preciso deixar o que ele chamou de “preguiça” de lado e implementar uma agenda de reformas que aumentem a eficiência da economia. Mas faz um alerta: se o Brasil não voltar a crescer até 2019, vai deixar de merecer o lugar no grupo dos Bric.
Portanto, é preciso que esse governo arregace as mangas e comece efetivamente a gerar as reformas necessárias para acabar com o déficit público. Precisa enxugar a máquina estatal, precisa diminuir os gastos públicos, diminuir o número de ministérios e buscar a auto-suficiência. Precisa melhorar o câmbio, baixar o juro para investimentos, investir efetivamente em infra-estrutura para fazer a indústria andar e, acima de tudo, extirpar o câncer da economia nacional, que é a corrupção, essa sim ampla, geral e irrestrita. Virou até produto de exportação.
Temos que ter consciência que, se não eliminarmos as quadrilhas que estão diariamente saqueando o País não vamos voltar a crescer e sem voltar a crescer não teremos como dar condições dignas ao povo que compõe essa imensa nação chamada Brasil.
(*) – É empresário, diretor presidente da Air Safety e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”.