Samuel Maurer (*)
Em tempos de queda do Bitcoin, como os que vivemos agora, é comum buscarmos no passado histórias que justifiquem essa flutuação.
E, nesses casos, sempre a “Febre das Tulipas” surge como referência.
Tulipas são plantas que levam de 7 a 12 anos para florescerem e permanecem floridas por uma apenas uma semana, entre os meses de maio e abril. Estas características as levaram, em 1636, a serem negociadas em contratos – uma modalidade muito semelhante aos contratos futuros que temos hoje.
O momento ficou conhecido como a Febre das Tulipas e muita gente entrou no negócio especulando grandes lucros futuros. Por conta de tamanha procura, esses contratos chegaram a se valorizar em até 20 vezes o valor inicial. Porém, independentemente do valor comercializado, o custo para se produzir uma tulipa não muda. Os insumos, o preço da mão de obra e até a quantidade de trabalho empregado não variam, são os mesmos.
O mercado pode até explorar a dificuldade de produção, a escassez, a disponibilidade dos investidores, mas apesar dessas variáveis o custo para se produzir a planta sempre será o mesmo. O Bitcoin é uma criptomoeda e por isso falamos aqui de uma nova fronteira tecnológica e financeira. Conhecido por ser o pioneiro entre as criptos e também por representar uma inovação, o Bitcoin representa um sistema financeiro absolutamente descentralizado e fora do alcance da intervenção estatal.
Logicamente, ele tem um custo para ser produzido – assim como uma tulipa. Entre eles, energia elétrica, pessoal, equipamentos, e a dificuldade de mineração – como é chamada a maneira como são criadas novas criptomoedas. Essa dificuldade varia muito e um dos critérios é a quantidade de mineradores interessados. O valor de mercado do Bitcoin é o fator mais importante para os mineradores, o que torna a atividade rentável e atraente. Mas todo esse interesse, também faz aumentar os custos de mineração.
Ou seja, quanto mais o Bitcoin se valoriza, mais caro é o seu custo de produção. O Bitcoin sempre terá seu custo atrelado ao preço. Em alguns momentos, inclusive, o preço estará abaixo do custo de produção, levando o minerador a não vender o Bitcoin minerado até que seu preço suba novamente ao patamar esperado. Então como podemos comparar Bitcoins às tulipas? Como podemos comparar mercados tão diferentes?
A resposta é: não podemos. Não há similaridade, mesmo que os economistas mais empenhados queiram ver algum tipo de familiaridade, em especial quando tentam caracterizar o Bitcoin como bolha – aliás, um assunto já ultrapassado. A flutuação do valor do Bitcoin – que apresentou grandes altas e algumas perdas no último ano, seguidas da estabilidade no número de investidores – é prova incontestável da saúde e da liquidez desta que é hoje a principal criptomoeda do mercado.
Sendo assim, comparar dois ativos com caraterísticas tão distintas serve apenas para denegrir um novo mercado revolucionário e promissor. No Brasil já temos mais pessoas investindo em Bitcoin do que na Bolsa de Valores de São Paulo. São quase 1,5 milhão de investidores, contra os 700 mil da B3.
Para todos os efeitos, é preciso entender que o ineditismo do conceito e da tecnologia das criptomoedas torna impossível compará-las a qualquer outro ativo, commoditie ou investimento atual. Por que não tratá-las como um mercado ascendente?
(*) – É analista do Grupo Bitcoin Banco, um dos primeiros da América Latina a atuar com investimentos e negócios relacionados às criptomoedas.