151 views 6 mins

Por que devemos apoiar a liderança corporativa feminina?

em Artigos
terça-feira, 03 de maio de 2016

Marienne Coutinho (*)

Mesmo sabendo que a predominância masculina no topo da pirâmide hierárquica das empresas ainda é grande, é possível constatar que a presença feminina está em evolução nos últimos anos.

Temos presenciado a ampliação de espaços para que as mulheres possam disseminar seu papel no mundo corporativo, discutir sua contribuição positiva no ambiente de trabalho e de negócios e, assim, imprimir novos rumos ao desenvolvimento das empresas e da sociedade. O incentivo à liderança por mulheres nas empresas antecipa uma tendência que já é realidade e que vem sendo colocada em prática por companhias no mundo todo.

Recentemente, a União Europeia divulgou que pretende exigir que as empresas, com mais de 250 empregados, cotadas em bolsa, reservem para as mulheres 40% dos cargos não executivos nos conselhos até 2020. Mesmo a passos largos, o tema vem ganhando destaque no Brasil à reboque do que já vem acontecendo globalmente. Em muitas companhias brasileiras, vimos que os programas voltados para a equidade de gênero ganharam um novo destaque.

Algumas ações já vêm sendo colocadas em prática, como o auxílio na condução de um processo estratégico no desenvolvimento da carreira profissional por meio de projetos de mentoria, rede de relacionamento com lideranças corporativas, criação de grupos de mulheres, programas de apoio à maternidade, entre outras. Além disso, estão sendo adotadas formas para dar maior visibilidade aos exemplos femininos de sucesso que incentivam a conciliação da vida profissional e pessoal, como forma de desmistificar o tema, abordando de maneira clara e honesta as barreiras e dificuldades dessa jornada. Mesmo em pequena escala, essas ações podem ser consideradas um pontapé inicial para o empoderamento da mulher.

Por outro lado, mesmo sabendo que as organizações têm atualizado a postura quanto à visão e ação estratégica e aberto espaço para a presença feminina em postos de liderança, a falta de representantes femininas no topo das empresas ainda não mostra sinais significativos de mudança. Vale lembrar que a questão do gênero está longe de estar resolvida e ainda tem muitos obstáculos pela frente. As barreiras para atingir a equidade de gêneros dentro das empresas ainda são muitas e o desafio é oferecer um apoio mais concreto às mulheres.

As melhores práticas indicam que o caminho do sucesso passa pelo posicionamento do tema como item relevante e prioritário na agenda estratégica corporativa, bem como pelo envolvimento do CEO, alta liderança e dos homens nas discussões e ações. A própria ONU-Mulheres lançou a campanha ElesPorElas (HeForShe), que já conta com inúmeros apoiadores de peso no Brasil e no mundo.

As empresas que investem na equidade conseguem alavancar os negócios mais do que outras que não o fazem. Várias pesquisas comprovam que as empresas que possuem mais equidade de gênero na liderança produzem melhores resultados financeiros, sem falar no impacto positivo que é gerado no tocante à atração e retenção de talentos femininos, diversidade de ideias e estilos, alinhamento dos valores da empresa com o de clientes e melhor entendimento do público feminino, que hoje representa boa parte do mercado consumidor e decisor de compras.

Hoje já sabemos que a liderança feminina é um diferencial competitivo para os negócios e, certamente, as empresas que largarem na frente colherão resultados positivos mais rapidamente. As mulheres vêm conquistando espaço no mercado de trabalho, mas ele ainda está longe de ser o ideal. Transformar valores e mudar comportamentos ainda arraigados em nossa sociedade em relação ao papel das mulheres e dos homens no mercado de trabalho e na sociedade não é uma tarefa fácil, mas a solução passa pelo engajamento de todos: empresas, governo e indivíduos.

A participação e o fortalecimento da presença feminina no mercado de trabalho em posições de liderança permitem um incremento da renda familiar, com reflexos diretos nas condições de educação dos filhos e um maior envolvimento do homem no cotidiano do grupo familiar. A equidade almejada não é apenas um direito das mulheres, mas um caminho para atingirmos um País mais moderno, igualitário e democrático.

(*) – É sócia da KPMG no Brasil.