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Paradoxo da Economia

em Artigos
quarta-feira, 23 de maio de 2018

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

A economia vive um momento paradoxal. De um lado há grande volume de produção de bens de consumo que não consegue ser absorvido no curto  prazo.

De outro lado, há uma grande massa ansiosa por consumir, mas que sofrendo os efeitos da precarização, com a renda espremida entre a sobrevivência e dívidas contraídas, fica fora do mercado consumidor.
Criou-se um labirinto que concentra a produção na Ásia onde mais de 400 milhões de pessoas foram integradas na indústria através de uma poderosa máquina de produzir, com equipamentos disponíveis e farta mão de obra, oferecendo produtos de razoável qualidade a preços imbatíveis, aliados a um mecanismo cambial favorável, que vai eliminando a concorrência, a distribuição e o comércio nos Estados Unidos.

Através do modismo criado pela propaganda, as marcas bem-sucedidas conseguem escoar a sua produção. Mas a grande massa de pessoas empregadas mal tem tempo para dormir, quanto mais para estudar e fazer compras. Estamos engrossando o número de seres humanos sem profundidade, sem clareza para pensar no geral da vida, e como máquinas inertes, não se comunicam com o eu interior.

A situação do comércio poderá se tornar problemática, evoluindo da estagnação para a depressão econômica. Então, como se arranjarão as grandes estruturas de comércio com seu elevado custo fixo? Como os emergentes poderão resistir à queda nas exportações e nas receitas fiscais? Os acordos que permitem a entrada de mercadorias através de empresas montadas em zonas de livre comércio poderão ruir ao alvorecer da era Trump que planeja implantar um novo modelo de comércio internacional mais fechado.

As grandes potências se movimentam para conservar mercados e ampliar o poder, e murmúrios de guerra começam a ser ouvidos pelo mundo. Não se trata apenas de assegurar o ganho em dinheiro, mas como o planeta conta com mais de sete bilhões de almas encarnadas, o drama da limitação dos recursos naturais fica em evidência.

Muitos países utilizam financiamento externo para cobrir o déficit nas contas, pois o usual tem sido transformar o ganho em dólares, a moeda padrão global, cerceando a acumulação fora do mercado financeiro mundial. Tomar empréstimos com adequado planejamento é fato usual, no entanto, os governos raramente olharam para isso deixando as dívidas crescerem até o ponto em que o mercado financeiro corta o crédito e assume as rédeas.

No giro da história, a roda do destino sempre traz o retorno das ações boas ou más, em benefício próprio de quem as praticou. Um problema global cujas consequências se manifestam inexoravelmente porque não há mudança de atitude dos humanos que se julgam donos do planeta, mas começam a perceber a sua impotência diante da força do destino. Sem a sincera vontade para o bem, os efeitos revelam as reais intenções. Somente com uma nova sintonização a humanidade poderá encontrar o caminho que escapa do abismo.

Líderes desconhecedores do significado do dom da vida, em vez de incentivar uma nova construção em paz, seguindo as leis da Criação, ofereceram as sombras da insatisfação e descontentamento, semeando revoltas e subversão. Os anos 1950/60 assinalaram um momento decisivo para a humanidade. Fidel Castro surgiu como um líder carismático, e que como tantos outros aderiu ao lema “os fins justificam os meios”.

A ausência de espiritualidade pressentida pelo ser humano, de forma consciente ou não, gera a sensação de que algo está faltando na vida vazia sem sentido elevado. A cultura do século 21, criada pelo raciocínio com primazia nas finanças, cuida de preencher essa lacuna através do consumismo e da busca pelo prazer imediato, cerceando a natural visão transcendentalista do futuro.

Com o passar do tempo vai surgindo saturação mental e emocional, pois o ser humano anseia naturalmente por algo mais do que o mundo material pode oferecer.

(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Prodigy Berrini Grand Hotel, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: [email protected].