Cida Oliveira (*)
Saudades dos tempos normais né, amigos? Esse ano nada, nada está sendo fácil.
Nunca percorri caminhos tão óbvios com tantas dificuldades e incertezas. Eu, sinceramente, ando com uma nostalgia imensa. Quando poderíamos prever um fim de ano que teríamos que substituir o Papai Noel “físico” pelo virtual? As vendas online já estavam chegando e todos nós já estávamos nos preparando para grandes mudanças no varejo. Mas, e o Papai Noel?
Pensei muito, e como essa época é de reflexão e avaliação, decidi ter uma conversa sincera com ele, ter um papo reto mesmo, olho no olho, assim como as crianças fazem quando querem pedir seus presentes tão desejados. Abri meu coração. Quando decidi que teríamos o Papai Noel “de verdade” no shopping, falei para ele de todos os protocolos e dos cuidados que precisamos ter com todos nesse momento tão difícil.
Minha intenção era escutar também um pouquinho a opinião dele, que é tão sensato com todos, afinal, se nós esperamos ansiosamente essa data, imaginei que ele também esperaria. Sabemos que os protocolos são rígidos e respeitá-los é fundamental. Em nossa conversa, ele entendeu e concordou, mas em seguida ele me contou que os empregos estavam em baixa esse ano. E olha que ele, que só trabalha mesmo nessa época, esperou o ano inteiro para poder escutar os pedidos de presente, dar bons conselhos e desejar um Feliz Natal.
Deixou bem claro que a decisão era minha (esperto ele viu), mas que desejava mesmo só isso: estar presente. Então, com todo cuidado, lembrei de conselhos tão antigos que sugerem que nos coloquemos no lugar do outro, que a gente decida com a razão, mas que uma pitada de emoção pode sim ser fundamental. E lá está ele! Muito bem protegido em uma redoma de vidro! Feliz, conversando e alegrando crianças e adultos.
Quando sentei para fazer meu pedido, ele fez um breve agradecimento dizendo que poucos amigos estão trabalhando neste ano. Que, na idade dele, esperar mais um ano não é fácil e que é bem diferente de 365 dias para os jovens. Disfarcei a emoção. Eu queria mesmo era dar um abraço nele. Mas quem sabe a gente consiga no ano que vem, né?
Para finalizar, curiosa, perguntei sobre os pedidos que ele tem recebido e ele me contou: “Sabe, as crianças continuam pedindo mesmo os brinquedos, e aguardando suas balinhas. Aqueles que não gostam muito de estudar, chegam mais seguros, pois sabem que não vou falar em notas, nem se passaram de ano. Mas todas as crianças falam das saudades que sentem dos colegas da escola”, ele me disse.
“E os adultos?”, eu perguntei. A resposta foi: “Bem, neste ano as viagens para Europa ou Disney com a família praticamente desapareceram. Poucos pedem algo material, mas todos, todos mesmo, pedem saúde e que mantenha sua família mais próxima”. Eu não pedi nada. Só agradeci pela oportunidade que tenho em conseguir proporcionar momentos inesquecíveis para tantas pessoas.
Continuo com saudades dos meus dias normais, mas confesso que aprendi muito com tantos desafios. Feliz Natal!
(*) – É diretora de marketing do Grupo Tacla Shopping.