Felipe Avelar (*)
A democratização do acesso ao crédito já é uma realidade, entretanto o processo é longo.
No último dia 13, teve início o processo de compartilhamento de dados sensíveis de clientes bancários, mediante autorização, entre as instituições financeiras como bancos, cooperativas de crédito, meios de pagamento e fintechs. A permuta de informações faz parte das etapas de instauração do Open Banking, no Brasil. Em resumo, a iniciativa do Banco Central (BC) objetiva permitir que correntistas autorizem que outras organizações possuam seus dados para a oferta de serviços com condições competitivas no mercado.
O Open Banking faz parte da Agenda BC#, lançada em 2019, e está diretamente ligado ao avanço da tecnologia voltada para os negócios. Tem como intuito agilizar a burocracia financeira, bem como democratizar o acesso a serviços bancários e de crédito. O resultado esperado é a livre concorrência no setor e a entrada de um maior número de brasileiros no sistema financeiro.
Segundo o BC, estima-se que 34 milhões de pessoas não têm conta ou vínculo algum com bancos ou parceiros autorizados pela entidade. Mas qual a vantagem do Open Banking e o que é possível, na prática, realizar por meio dele?
Primeiro de tudo, é preciso saber que, ao autorizar o compartilhamento de dados, o cliente concorda que seu cadastro, como nome, número de CPF, e-mail e telefone, endereço; histórico de transferências e transações; extratos e operações de crédito em cartão, financiamentos e empréstimos serão enviados a outra base. A premissa é válida para pessoas físicas e jurídicas.
É por meio destes elementos que a concorrência poderá oferecer produtos com maior afinidade ao que o cliente necessita e captar novos negócios. Podemos comparar, por exemplo, com uma grande galeria ou um marketplace em que é possível encontrar uma infinidade de marcas, produtos e distribuidores. Ao negociar com a loja, o consumidor vai buscar a melhor negociação, custo-benefício, prazos de pagamento, entre outros fatores.
Ao final, quem fizer a tratativa mais vantajosa ao cliente, fecha o acordo.
Desta forma, além de ter o controle sobre quem possui seus dados, o cliente ainda escolherá com quem seguir, fugindo da maneira tradicional de obrigar-se a buscar o mesmo banco pelo vínculo correntista e que, historicamente, dificulta o acesso ao crédito. Vale ressaltar que o compartilhamento de dados é completamente digital, assegurado pelo BC, gratuito e prático.
Ou seja, a mais nova invenção do BC coloca o cliente no centro da tomada de decisão e chancela a credibilidade de fintechs no mercado financeiro. Também inverte o fluxo dos negócios, uma vez que os bancos já não determinam mais as variáveis de intercâmbio de crédito, nem precisam servir de intermediador para o cliente, necessariamente. O tomador de crédito tem toda a liberdade de buscar pelas facilidades oferecidas pelas ferramentas tecnológicas das fintechs online.
Deixa de existir a preocupação por parte da pessoa interessada no crédito em parecer devedora ou rejeitada pelas grandes instituições. Enquanto as etapas para o fim da implantação do Open Banking não terminam (a quarta e última inicia-se em dezembro), segue o esforço das fintechs em aumentar a confiabilidade perante micro e pequenos empresários que ainda buscam saídas de crédito no modelo antigo.
Enquanto os bancos continuam rejeitando financiamentos, as fintechs de modalidade de cessão giraram R$ 4,5 bilhões em crédito somente em 2020, segundo o Relatório de Economia Bancária do último ano. Isso mostra a credibilidade e o aumento da busca pela via facilitadora tão necessária no Brasil. Somente quando consolidarmos a nova estrutura econômica e realizar maiores números de operações, contribuindo com a sociedade, teremos plena aceitação e diversidade de escolhas. Estamos no caminho.
(*) – É fundador e CEO da startup Finplace, fintech que conecta de forma gratuita empresas que precisam de crédito com instituições financeiras (www.finplace.com.br).