Marco Antônio Barbosa (*)
Em três meses o Brasil será o centro do mundo com as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Desde o último dia 3 de maio, os rituais da competição chegaram para ficar com o desembarque da tocha olímpica em solo brasileiro, que percorrerá todos os estados. Com isso, os Jogos já começaram de fato. Entretanto, para o setor de segurança, Rio 2016 começou no momento em que a cidade foi escolhida como sede, em 2009.
Segundo o Ministério da Defesa, as Forças Armadas prepararam um conjunto de ações de prevenção ao terrorismo com atividades de inteligência de defesa para prevenir atos terroristas e, no campo de combate, atividades de caráter repressivo, que visam impedir e até responder em caso de ataques.
Prevenção não seria o termo correto neste momento. Agora seria remediar. Como mostrado massivamente pela imprensa depois dos atentados de França e Bélgica, os terroristas se planejam por meses e até anos antes de qualquer ataque. Os primeiros fatos foram noticiados antes dos primeiros atos. No mês passado, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) elevou o grau de risco de terrorismo no Brasil, após confirmar a autenticidade do perfil, em uma rede social, de Maxime Hauchard, integrante do grupo terrorista Estado Islâmico, que faz ameaças contra o país.
Depois disso, a Polícia Federal, o Ministério da Defesa e a Abin começaram a se mobilizar e propuseram a criação do Comitê Integrado de Enfrentamento ao Terrorismo (Ciet). A estrutura reuniria todas as capacidades de prevenção e reação do País durante os Jogos Olímpicos.
Mas mesmo as ações sendo um pouco tardias, elas precisam acontecer. Este comitê também deveria integrar os serviços de inteligência de todos os países que investigam o terrorismo. As Olímpiadas são um evento mundial, unindo atletas e torcedores de todas as partes. A responsabilidade passa a ser de todos. Outro motivo e principal é estratégico. O serviço secreto da França está sendo investigado por ignorar o percurso dos terroristas na União Europeia antes de chegar ao país. A inteligência achava que um dos líderes do último atentado ainda estaria na Síria. Uma falha gritante cometida por não haver uma comunicação preventiva entre as nações.
O Estado Islâmico usa a tecnologia e a internet a seu favor em busca de recrutar pessoas no mundo todo. Trabalham com células espelhadas e independentes. Para unir todas as evidências e coincidências de cada uma dessas células, somente unindo todas as informações adquiridas para entender como eles realmente trabalham e antever os atos. Os terroristas usam a comunicação e é necessário desmontar esta rede para impedi-los.
Caso aconteça, também é preciso estar preparado. Sistemas de segurança em loco para evitar que terroristas se aproximem dos perímetros de aglomeração de público como o Urbaco – pilar retrátil desenvolvido pela Came do Brasil que pode impedir caminhões a 80 km por hora -, dentes de tigre no chão para furar pneus, entre outros, podem auxiliar que uma explosão possa atingir um estádio lotado, por exemplo. De 2014 a 2016, o governo federal investiu R$ 704 milhões, sendo R$ 240 milhões neste ano.
As Forças Armadas informaram que vão designar 38 mil militares para cuidar da segurança durante o Rio 2016. Desse total, 20 mil atuarão na cidade-sede e o restante do efetivo será distribuído entre as outras cinco cidades – Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e São Paulo (que receberão partidas de futebol masculino e feminino). Remediar é importante, mas o essencial é lembrar que estes sistemas só funcionam com a prevenção adequada para averiguar quais são os pontos mais suscetíveis e também identificar possíveis terroristas que chegam ou já chegaram ao Brasil. O trabalho de inteligência deve ser a base e deve ser planejado.
De 2009 até 2016 foram sete anos para fazer bem a lição de casa. Além do desempenho dos nossos atletas, o sucesso do Brasil nas Olimpíadas depende disso.
(*) – Especialista em segurança e diretor da Came do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.