Jaison Niehues (*)
Não é exagero dizer que o avanço da tecnologia transformou o mundo e remodelou setores inteiros da economia.
O mercado financeiro, por exemplo, deixou de ser centrado nos bancos e viu a consolidação das fintechs. O sistema educacional também mudou com o advento das edtechs e a área de saúde se prepara para o crescimento das healthtechs. Entre tantos acrônimos, um deles se destaca justamente por trazer eficiência e agilidade a um segmento conhecido pela burocracia e falta de transparência: o poder público. As govtechs já são uma realidade e oferecem diversas vantagens aos servidores e também aos cidadãos.
A pesquisa TIC Governo Eletrônico, conduzida por CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) mostra que, aos poucos, as prefeituras brasileiras começam a adotar soluções de tecnologia da informação. Pouco mais da metade delas já possui algum recurso para a gestão de documentos (54%) e para o andamento dos processos (56%). Quase um terço do total (31%) já investe em um software de gestão integrada, otimizando o dia a dia dos servidores públicos e trazendo rapidez a todos os trâmites.
Da mesma forma que os outros exemplos já citados, a tecnologia voltada ao poder público deve ser pautada pela transformação digital que ocorre atualmente em todo o mundo. As soluções pensadas e desenvolvidas para este segmento devem priorizar a resolução de problemas reais dos cidadãos, como a burocracia nos processos internos e a demora na resposta de solicitações feitas. Além disso, é importante estimular o uso de equipamentos de fácil implementação e, principalmente, prezar pela transparência necessária a todos os órgãos federais, estaduais e municipais.
Quando se tem parceiros que auxiliam na implementação destas tecnologias, o poder público consegue atingir a tão desejada eficiência em seus trâmites. Afinal, se todos os documentos são digitalizados e ficam disponíveis às pessoas na web, se gabinetes e secretarias conseguem ter uma visão ampla de todo o processo, identificando em qual departamento está a solicitação e qual o profissional responsável, os gestores podem avaliar cada área de acordo com seu desempenho, apontando melhorias para aumentar a produtividade e melhorar os índices de satisfação da população.
Ainda hoje os órgãos públicos são vistos como sinônimos de burocracia e até de preguiça. Por muito tempo, solicitar um atendimento em governos municipais, estaduais ou até na União era uma via-sacra: a pessoa tinha que visitar diferentes departamentos e secretarias, acumular uma série de papéis e esperar todo o trâmite até ter sua solicitação atendida – um procedimento que costumava levar meses. Essa insatisfação aumentou com a evolução da tecnologia nas últimas décadas. Se tudo foi agilizado e ficou mais rápido, por que o poder público não pode ser ágil também?
Hoje não há mais espaço para prefeituras, secretarias e autarquias continuarem utilizando sistemas burocráticos e pouco efetivos no atendimento às demandas dos cidadãos. A tecnologia mostrou às pessoas que é possível desburocratizar, agilizar e ser mais transparente. Órgãos públicos que não se adaptarem a esta nova realidade terão sérias dificuldades no relacionamento com a população – e poderão até perder verbas por conta disso.
O futuro já chegou ao governo e é totalmente tech.
(*) – É fundador da 1Doc, uma das principais govtechs do País (www.1doc.com.br).