Arthur Martins (*)
O filósofo alemão Hegel disse que “A história se repete, pelo menos duas vezes”.
Se ele estiver certo, a humanidade está às vésperas de entrar em um década de grande prosperidade. Essa expectativa é alimentada pela observação do que ocorreu há exatos 100 anos, quando a Gripe Espanhola, que teve início em 1918 e terminou em 1920 matou mais de 20 milhões de pessoas e infectou cerca de 500 milhões, o que significava cerca de um terço da população mundial daquela época.
Na ocasião, com o término da primeira guerra e a movimentação das tropas, o vírus se espalhou rapidamente pelo mundo, resultando em aumento do desemprego e da pobreza e escassez de crédito no mercado.
O que fez a roda girar novamente foi a injeção de recursos na economia. Em meados de 1921, impulsionada pelo banco central dos Estados Unidos (FED), a oferta de crédito impulsionou a demanda por capital produtivo.
Muitos dizem que os Twenties (anos 20 do século passado) foram um período incomparável a qualquer outro momento econômico. De fato, foi a década com maior crescimento, geração de riqueza, inovação e mudança em hábitos de consumo já observados na história americana. Foi naquela época que Henry Ford, que revolucionou a indústria. A transformação tecnológica que ele trouxe para o setor aumentou a produtividade com redução de custos.
Com isso, tanto o lucro das empresas cresceu quanto os bens de consumo ficaram mais acessíveis para o consumidor, impulsionando a demanda agregada. Alguns sinais parecem indicar que o ciclo pode estar começando a se repetir. Ao redor do planeta as políticas monetárias estão sendo implementadas para salvar a economia com praticamente o mesmo conceito. O FED já injetou no mercado americano, por exemplo, mais recursos do que em qualquer outro momento na história.
A União Europeia anunciou um acordo histórico para investir 750 bilhões de euros no fundo de recuperação pós-pandemia. Os bancos centrais de todo mundo, inclusive, estão injetando volumes massivos de dinheiro na economia, reduzindo taxas de juros e comprando títulos de dívidas corporativas.
Mesmo no Brasil, alguns dados do Banco Central indicam que nunca houve tanto dinheiro físico circulando no país. Algumas medidas como o auxílio emergencial, liberação do FGTS e INSS antecipado têm contribuído para isso. A combinação da alta injeção de recursos, acrescida do momento caótico durante a pandemia, indica uma forte tendência a inovação e um forte crescimento econômico no período pós-pandemia.
Inúmeros negócios 100% focados no mundo digital que estavam em período de teste foram impulsionados pela crise. Outras ideias que estavam “mornas”, também foram aceleradas. Os hábitos de consumo e a rotina das pessoas mudaram e todos tiveram que se adaptar a uma nova realidade de distanciamento social. Teremos, portanto, outra oportunidade de crescimento, por meio da inovação, ao fim desse período de pandemia?
Pela necessidade de adaptação e novas iniciativas surgindo no mercado, tudo indica que sim. Talvez até mais de um case Henry Ford esteja a caminho. O que podemos fazer é acompanhar de perto essas tendências de mercado e se adaptar ao longo do caminho.
E não menos importante, torcer para que essa alta injeção de capital no mercado ocorra de maneira estruturada – e não crie mais uma bolha como foi em 1929.
(*) – É consultor de Inovação e Estratégia da Play Studio, consultoria de inovação e venture builder.