Hernane Cauduro (*)
Muito se tem falado recentemente sobre a política de conteúdo local na imprensa brasileira.
E percebe-se que alguns analistas de mercado e economistas têm colocado de forma pejorativa a política de conteúdo local na área de petróleo e gás, deixando a entender que este é um dos problemas de sobrepreços da Petrobras, como se a empresa não usasse os preços de referência internacional destes equipamentos na negociação para fechar os pedidos com os fabricantes nacionais.
As colocações feitas, em boa parte, são equivocadas, sobretudo quando colocam o assunto dentro do mesmo balaio da corrupção e da incompetência na Petrobras. Diante desta constatação, é extremamente importante que a indústria brasileira atuante nesse setor faça a defesa da política de conteúdo local para a área de petróleo e gás.
É importante que se leve em consideração, nas análises feitas, o ponto de vista da indústria nacional, elencando vantagens/ganhos e, principalmente, externando uma grande preocupação do empresário nacional que é a perda efetiva destes empregos no Brasil, e do risco da extinção dos pólos criados após a introdução da PCL, que mudaram a situação de muitas regiões e cidades como Rio Grande na metade sul do estado do RS.
Antes da criação do pólo naval, a região era pobre e mudou radicalmente seu perfil em menos de dez anos. O Pólo naval de Suape seguiu os mesmos passos, desenvolvendo uma cadeia de fornecedores que se instalaram em Pernambuco, gerando uma onda de industrialização no estado. O legado desta política, sem sombra de dúvidas, está gerando inclusão social.
É de grande valia que a opinião pública seja informada de que os fabricantes locais têm plena capacidade de atender ao nível de conteúdo local exigido pela Petrobras, de cerca de 65%. Segundo as estimativas da empresa, devem ser movimentados até 2018 mais de US$ 220 bilhões em investimentos. O que estes investimentos podem gerar no Brasil? De acordo com cálculo do fator multiplicador e base de estudo realizados pelo economista Igor Morais, quando uma máquina ou equipamento é produzido localmente, gera riqueza dentro da cadeia de fornecedores e se multiplica por 2.1.
Ou seja: se por ventura este valor anunciado de investimentos fosse em 100% de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil, estes 220 bilhões de dólares se transformariam em 462 bilhões de dólares. Portanto, abdicar de uma política de conteúdo local é ser no mínimo inconseqüente. Errar é humano, mas repetir no erro é ser inconsequente.
Entre os anos 70 até os anos 80, o Brasil chegou a ser o segundo maior produtor na área naval. De lá para cá, transferimos somente neste segmento milhares de empregos para a China e a Coréia do Sul hoje os dois maiores produtores, em boa parte por falta de visão estratégia para o desenvolvimento desta indústria no Brasil.
Isto significa dizer que retiramos de muitos jovens a oportunidade de um futuro melhor, e se isso não tivesse ocorrido, certamente teríamos menos presidiários, menos pobreza, e melhor qualidade de vida.
(*) – É diretor da Metal Work no Brasil e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – ABIMAQ para o RS.