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O Pix não é a morte das maquininhas

em Artigos
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Patrick Burnett (*)

Desde que o Banco Central anunciou o novo meio de pagamento instantâneo, muito se falou das funcionalidades e vantagens que o Pix iria trazer.

Antes mesmo do início de seu funcionamento, muitas especulações começaram a surgir. Há discussões que vão desde como esta nova forma de realizar transferências, pagamentos de contas, boletos e compras poderá afetar o mercado com sua adesão, até debates sobre o possível fim da utilização de maquininhas. Muitas mudanças acontecerão de fato, mas as maquininhas não devem desaparecer.

Pode parecer estranha essa afirmação. Pensar que, com um novo jeito de pagar e receber dinheiro, não haverá mais a necessidade de utilizar maquininhas. Então, com a adesão do Pix, como elas poderão sobreviver a esse novo meio de pagamento? Os motivos são diversos e precisamos pensar em fatores culturais e econômicos, além do simples fato de as maquininhas não servirem apenas para receber pagamento em cartão.

Hoje, 80% da economia do país é formada por pequenas e médias empresas, e a grande maioria é aderente à maquininha por desconhecimento tecnológico e desconfiança. Outro ponto importante: muitos brasileiros ainda são reféns do crediário e de compras parceladas, e o Pix ainda não traz a possibilidade de pagamentos em crédito parcelado.

O Brasil possui cerca de 46 milhões de desbancarizados e um número incalculável de pessoas que possuem contas apenas para receber salário ou algum benefício, que são os chamados semi-desbancarizados. Isso porque há também uma grande questão em relação ao acesso/medo da tecnologia para elas. Agora, para entendermos um pouco mais sobre as diversas funcionalidades de uma maquininha, precisamos voltar em 2009, quando o BC liberou a competição entre as bandeiras e aumentou o acesso das adquirentes aos cartões.

Naquele ano, Cielo e Rede começaram uma grande disputa para atrair mais clientes. Os anos passaram, a tecnologia avançou e fintechs com soluções de pagamento começaram a nascer, e junto com elas surgiu a “guerra das maquininhas”, uma busca por menores taxas e diferentes funcionalidades. A busca acirrada por um diferencial tornou a maquininha muito mais que uma forma de receber pagamento, mas também fonte de outros produtos e serviços.

Por ela é possível realizar recargas de celular, parcelar tributos como o IPVA, IPTU e ITBI, emitir nota fiscal, entre outras tantas funcionalidades. Um estabelecimento que possui uma maquininha consegue controlar tudo e simplificar tarefas complexas, por exemplo. Um estacionamento de carros, consegue substituir facilmente um computador. Não há necessidade de anotar placas e horários, a própria maquininha, além de receber o pagamento, consegue ler o modelo e a placa, gravar o horário de entrada e gerar o comprovante ao motorista. Na hora da cobrança, ela mesma calcula o tempo e o valor a ser pago, emitindo o cupom fiscal.

Outro exemplo são os restaurantes, quando o garçom chega para nos atender, todo procedimento pode ser feito pela maquininha, desde anotar o nosso pedido, que chega direto até a cozinha ou bar do estabelecimento, cobrar pelo consumo já “splitando” a taxa de serviço, emitir o cupom fiscal, integrado com o SEFAZ e ainda estar integrado também com o sistema de administração do estabelecimento, controlando o estoque e abastecendo em tempo real toda informação.

Por enquanto, o Pix não trará o fim da maquininha, até mesmo porque a própria maquininha pode receber o pagamento através do Pix, substituindo a transação de débito, onde é gerado um QR Code e o cliente pode optar por pagar lendo este QR através do seu smartphone. Haverá um estímulo cada vez maior pela competição entre os players desse mercado. A quantidade de serviços que é possível alocar é muito grande, indo muito além. Receber pagamento é apenas uma de suas tantas funcionalidades.

(*) – É fundador e CEO do InoveBanco, fintech de soluções em meios de pagamentos, fundada em 2019.