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O Drex não será para comprar pão

em Artigos
terça-feira, 26 de março de 2024

Márcio Rosa (*)

Quando se fala em moeda digital, nos remetemos a algo de compra fácil, que basta aquela moeda jogada na carteira para comprar. Logo, há quem pense que vai ser possível comprar pão com o Drex. Cheguei a ouvir também que o Drex é um concorrente do Pix. Talvez pelos nomes parecidos? Não sei. É claro que sabe-se muito pouco sobre o tema hoje, mas entre várias especulações já podemos ter um vislumbre sobre o que é o Drex propriamente dito.

Primeiramente, não, você não vai conseguir comprar pão com o Drex. Muito diferente do Pix, o Drex deve ser visto como um contrato inteligente para a negociação de bens, como imóveis, carros e até ações. Estar no piloto desse projeto através da Efí me faz pensar em uma grande verdade: o Drex vai, de fato, desburocratizar o mercado. Vai agilizar processos em uma cadeia programável dentro destes contratos inteligentes e facilitar todas as negociações que você tem, geralmente com um grande custo processual ali por trás, não só de tempo, mas de outras esferas.

Essa mudança toda vem muito ligada à entrega como pagamento (DvP – Delivery vs Payment). O DREX irá prover a ‘liquidação atômica’. Por exemplo, sou dono de uma loja de carros ou TVs em que tenho uma saída de estoque e dependo do meu financeiro para confrontar as informações do que eu vendi e do que foi pago. O DREX vai encurtar esse processo, unificando essas duas pontas. Ou seja, não será mais necessária uma terceira empresa para realizar essa conciliação.

É importante saber que o Drex não chegou para substituir o real e, sim, se tornar uma evolução dele. Ele será uma stablecoin (também chamada de moeda estável), como o mercado de criptomoedas fala, então 1 real sempre vai valer 1 Drex. Ou seja, você vai abrir sua conta bancária e terá 10 Drex, e esse montante sempre vai valer R$ 10, hoje ou daqui a 10 anos. E apesar dele usar uma blockchain, a mesma tecnologia do bitcoin, não tem relação com as criptomoedas especulativas que sofrem variação de preço. E entre suas maiores características, uma das mais importantes é a sua segurança.

Ele está sendo testado pra isso, tanto no quesito de proteção de dados, quanto a acessos autorizados. O foco do piloto do real digital, nesse momento, tem sido esgotar questões técnicas de segurança e de privacidade. Isso é algo importante, pois trará uma credibilidade no tema de LGPD, que já tem sido falado. Então, as informações pessoais de troca em carteira e movimentações vão ficar restritas na instituição financeira através da criptografia dos dados. Nem o Banco Central (BC) vai ter essa informação. Essa tem sido uma evolução da nossa plataforma financeira do BC.

Vale reforçar que isso está sendo visto pelo mundo inteiro como um teste muito rico e, para nós como país, que é uma referência não só no tema de prevenção à lavagem de dinheiro e no tratamento anti corrupção, é super positivo. Apesar de ser um dos primeiros, o Brasil não é o único a criar uma moeda digital oficial. No mundo, esse tipo de iniciativa se chama moeda digital de banco central (CBDC, de Central Bank Digital Currency, em inglês).

Muitas companhias, de vários setores além do financeiro, podem se beneficiar e criar soluções com essa nova tecnologia, contando com a sua eficiência e segurança também. E entender que essa nova infraestrutura para o mercado financeiro é o ponto de partida para pensar nas soluções e possibilidades que essa novidade traz. Sua liberação está prevista para o final de 2024 ou até o início de 2025, e ainda há muito o que falar sobre o Drex e confirmar sobre as direções que ele irá trilhar no meio de toda essa modernização no mercado de pagamentos.

(*) – É Gerente de Produtos da Efí (https://sejaefi.com.br).