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Ações afirmativas são aliadas na inclusão

em Artigos
terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Kwami Alfama Correia (*)

Aos 19 anos, desembarquei no Brasil para estudar Engenharia Mecânica e lembro da inquietação que senti ao me deparar com a falta de diversidade. Hoje, aos 46, o incômodo ainda se faz presente, aumentando junto a cada degrau que subo em minha carreira. Enquanto homem negro, contrario as estatísticas fazendo parte dos ínfimos 4,7% de profissionais negros que ocupam altos postos hierárquicos, presidindo a multinacional Tereos Amido & Adoçantes Brasil.

Nós, negros, somos 56% da população brasileira e representamos as piores taxas em diversos cenários. É notório que a conta não fecha e precisamos impulsionar transformações, por meio de oportunidades. Não podemos esperar mais 20, 30 anos para que tenhamos representatividade no topo. Tenho muito orgulho da minha história, trajetória e de onde cheguei, mas não quero continuar sendo o único ou um dos poucos que conseguem chegar nas altas posições de liderança.

Não podemos continuar vivendo histórias de “heróis”. A mudança deve começar agora, levando como premissas básicas diversidade, inclusão e equidade. Acredito que ações transformadoras possam modificar o mundo, e é com esse pensamento que visualizo as ações afirmativas nas empresas como uma ferramenta arbitrária às desigualdades. A efetiva e verdadeira inclusão passa não só pela contratação de pessoas de todos os perfis, mas por assegurar a proporcionalidade em todos os níveis hierárquicos, principalmente nos níveis mais altos.

Acho super importante os programas para contratação de trainees e estagiários negros, mas são cargos iniciantes, o que significa que levaria cerca de uma década ou mais para que ocupem posições de liderança. Aproveito minha ocupação como CEO para estimular mudanças e dar visibilidade a profissionais negros em suas infinitas competências, nas mais diversas áreas.

Procurando abrir o debate sobre diversidade no mercado agro, desenvolvi, neste ano, um grupo de D&I na Tereos com foco no recorte de gênero e raça, onde discutimos pontos a melhorar dentro da companhia e estabeleci metas que refletem no bônus anual do time executivo. Porque, no final das contas, não dá para discutir diversidade sem diversidade.

(*) – É CEO da multinacional Tereos Amido & Adoçantes Brasil, subsidiária brasileira da Tereos, líder global nos mercados de açúcar, álcool, etanol e amidos.